CONTEMPLANDO O SACRIFÍCIO DE ABRAÃO

Na nossa vida consagrada e religiosa adquirimos bens, apego a pessoas,
coisas e lugares, que nos levam a exercer uma espécie de paternidade sobre estas realidades, remetendo a Abraão e seu único filho Isaac – o filho da benção – porque o outro filho foi o filho de Agar, a escrava. Abraão amava Isaac como único tesouro da sua vida, o único bem da sua existência, a única confirmação da promessa de Deus e eis o momento em que Deus pede a Abraão o sacrifício de Isaac, o seu único filho, o filho da promessa. Sacrificá-lo seria reconhecer que a promessa de Deus se tornaria impossível de ser realizada. Seria do lado humano, perder o seu único tesouro, sua posteridade, sua descendência. Perder tais coisas para o israelita era como não viver, não ter o sentido realizado para vida.

Deus pede e Abraão responde generosamente: leva o seu filho para sacrificá-lo. Abraão perde o seu filho, mas confia nos desígnios de Deus e da providência, e sabe que Deus de alguma forma, manifestará e continuará manifestando a aliança. Ao longo de nossa vida, devemos perceber qual é o Isaac – o que
é que está ocupando o lugar de Deus em nosso coração? Vez por outra, o Senhor passará em nossos
corações copiosos e pedirá o sacrifício daquele Isaac que temos guardados dentro de nós.

Deus pede o sacrifício de tudo aquilo que tira o lugar Dele em nosso coração. Deus pede que seja oferecido em holocausto todos os nosso ídolos: pessoas, coisas, lugares, cidades; Deus pede a pureza de nosso coração: coração casto nada possui, só Deus é o
Senhor do nosso coração. Assim, devemos oferecer com generosidade, aquilo que nós levamos como algo precioso e que ocupa o lugar de Deus.

PARA PENSAR

Sou capaz de fazer como Abraão, dar em sacrifício, aquilo que tenho colocado como prioridade em minha vida no lugar de Deus?

PARA REZAR

Senhor, dai-me a força de renunciar a tudo aquilo que tem ocupado o teu lugar em meu coração.

PARA MEMORIZAR

Oferecerei em holocausto tudo aquilo que deve ser ofertado, para que Deus seja o absoluto da minha vida. (Pe. Wilton)

A Misericórdia: Um jeito de ser da Copiosa Redenção

Ser Copiosa Redenção, no espírito de Santo Afonso, é ser em nosso próprio agir a memória da misericórdia do Redentor, direcionada a todos os que estão privados da redenção, levando-os a experimentar a misericórdia. Nos nossos dias, tem-se acentuado muito o valor da misericórdia como
espiritualidade, ou seja, uma forma de ser. Misericórdia é também um Carisma, um Dom do Evangelho que nos faz entrar no coração da Trindade e descobrir a revelação máxima do Amor Divino.

Encontramos na Bíblia diversas vezes a palavra misericórdia, em muitos lugares e situações distintas. Na história da Salvação, quando Deus faz Aliança com o Povo de Israel, o fio condutor é um amor bondoso e imenso de Deus que vai se revelando como um Pai que ama apaixonadamente. Portanto, o sofrimento do seu Povo comove o coração de Javé: “Eu conheço suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo” (cf. Ex 3, 7-8). Esta é a face de Deus que se revela na Copiosa Redenção. Deus que escuta a angústia como um clamor de milhares de jovens na dependência das drogas e através de nós. Devemos ser e estar revestidos desta mesma misericórdia, que nos impele a levar libertação para a juventude dependente de drogas. Se esta sensibilidade for fraca em nós, dificilmente nosso coração se comoverá pela dor dos nossos irmãos sofredores.

Esse dom de misericórdia, que toca a missão da Copiosa Redenção na vida apostólica, é dado a todos os cristãos, como também toda a Igreja é chamada a viver essa bem aventurança: “Bem aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (cf. Mt 5,7). Por isso, devemos nos empenhar muito neste ano que se aproxima, para aprofundar o nosso viver numa profunda união com a Igreja, através
da orientação do Papa Francisco que nos convida a colocar em prática a Encíclica “Misericordiae Vultus”. Assim caminharemos com a Igreja procurando mergulhar a nossa vida nesta dimensão da misericórdia.

Também devemos pedir ao Senhor, através de uma oração constante rezando com o profeta Miquéias:
manifesta em nós Senhor a sua misericórdia” (Miquéias 7,18). E ainda, o nosso clamor orante deve orar: Senhor dai-nos um coração misericordioso semelhante ao Vosso coração. Este é o nosso caminho, assim é nosso rosto, misericordioso, de Copiosa Redenção; ir levando pelas estradas do mundo, a homens e mulheres, um acolhimento misericordioso que resgata vidas e as transforma pela força de sinais de misericórdia.

Que possamos levar, com empenho, o compromisso de corresponder intensamente a este chamado da Igreja. Considero Também, que seria importante aprofundar alguns textos bíblicos que nos falam de misericórdia: Salmo 50,3 – “Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a imensidade de vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade”. Clamar ao Senhor pela Sua misericórdia:
em nossa vida, na vida das pessoas de nossas famílias, de nossa comunidade, cidade, país, pelo mundo. Clamar ao Senhor pelo Seu perdão, pela Sua compaixão neste mundo tão sedento de misericórdia.

Evangelho de Lucas 10, 30-37 – Jesus nos ensina a sermos misericordiosos: “Jesus então contou: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram; e depois de o
terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o meio morto. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: Trata dele e, quanto gastares a mais, na volta lhe pagarei. Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? Respondeu o doutor: Aquele que
usou de misericórdia para com ele. Então Jesus lhe disse: Vai, e faze tu o mesmo
”.

Sendo assim, neste ano que se inicia, dedicado à misericórdia, sigamos a orientação e o exemplo do Papa
Francisco, que, possamos refletir a Palavra a cada dia, rezar para que Deus derrame a sua misericórdia sobre todos nós, sobre nosso país, sobre o mundo e também para sermos revestidos da misericórdia de Deus e levarmos aos nossos irmãos mais necessitados, um pouco do Amor imenso que Deus tem por nós.

CONTEMPLANDO ABRAÃO MODELO DE FÉ

Neste olhar inicial queremos conhecer quem foi Abraão. Na Sagrada Escritura, sabemos que o nome revelava a escolha de Deus e a própria missão recebida Dele. Abraão, cujo nome significa “pai de uma multidão”, é provavelmente um dos patriarcas de toda história.

Pela Sagrada Escritura podemos saber, que Abraão era filho de Nacor e de Ara. Foi tio de Lot, sua esposa se chamava Sara e Abraão morava em Ur, na Caldeia. Abraão viveu plenamente a característica de todos os pastores de sua época, procurando sempre novos pastos para o seu rebanho. Por ordem do próprio Deus, no espírito de obediência, Abraão buscou cumprir a vontade de Deus. Tornou-se um homem rico e
potente que morreu com 175 anos.

Assim como cada um de nós possui uma história com a nossa vocação, com o chamado de Deus, Abraão também teve a presença marcante do Senhor em sua vida. Mas no que consiste a resposta vocacional
de Abraão? O ser de Abraão foi todo formado e interpelado por Deus, marcando-o como uma pessoa de fé, que se coloca totalmente à disposição, capaz do despojamento de si mesmo, obediente e com um
coração pobre.

No livro do Gênesis 12,1, nós encontramos o texto que nos diz: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar”. Diante dessa Palavra, podemos perceber que toda a vida de Abraão é um êxodo constante, um permanente deixar. Inclusive o grande sacrifício de deixar seu filho Isaac, a pedido do Senhor. Ele era capaz de entregar tudo por Deus, ainda que aquilo custasse o bem mais precioso que ele possuía. Ele não permaneceu apegado ou amarrado a uma situação existencial, mas colocou-se em movimento para realizar a vontade de Deus.

A vocação de Abraão o leva a ser uma pessoa profundamente tocada pelo Senhor, a ser alguém que recebe vida dessa experiência e também de alguém que é fortificado. Ele sente que sua vocação o conduz a andar na presença de Deus. Sua vida torna-se um dom e a resposta generosa à vocação que Deus lhe propõe o leva a ser um homem abençoado por Ele.

PARA REZAR

Senhor, cria em nós um coração como de Abraão, capaz de ser dócil e de responder com generosidade ao Teu chamado. Senhor, aumenta a nossa obediência e a nossa capacidade de deixar tudo para viver e realizar a Tua aliança que se manifesta em nossas vidas.

PARA PENSAR

Como podemos hoje, responder a Deus, imitando Abraão, criando espaços de aliança em toda dimensão de nossa vocação e de todo nosso ser?

PARA MEMORIZAR

“Faço aliança contigo e com tua posteridade, uma aliança eterna, de geração em geração, para que eu seja o teu Deus e o Deus da tua posteridade”. (Gn 17,7)

A Espiritualidade

Deus, através da revelação nos mostra que a espiritualidade é um progressivo conhecimento Dele, da revelação do seu rosto, o rosto do único e verdadeiro Deus que vai mostrando este caminho da espiritualidade. Vamos encontrar todas essas faces de Deus, de um mesmo Deus que se revela na experiência pessoal.

Podemos olhar a experiência de Abraão. Deus se revela a Abraão como Senhor da história que intervém na vida dos homens para fazer alianças, firmar compromissos e torná-los um povo. Também na minha vida devo encontrar esse Deus, a espiritualidade nos leva a perceber momentos concretos de nossa
vida, sua presença, seu comprometimento conosco como se comprometeu com o povo da Aliança, precisamos crer de maneira absoluta, depositar em Deus a nossa esperança.

A espiritualidade verdadeira nos leva a compreender que não devemos ter uma fé pela metade, ela deve ser total, deve permanecer fiel, eu devo encontrar em minha vida este Deus, eu devo depositar Nele toda a minha esperança, confiança e crer em termos absolutos, também, na minha vida espiritual devo perguntar sempre em que ou em quem tenho depositado toda a minha confiança.

Portanto, ao olhar Abraão nós descobrimos este caminho de espiritualidade, esta face de Deus revelada a Abraão também se revela a nós, devemos, portanto, rezar: “Senhor, mostra-me a face que revelastes a Abraão, mostra-me Seu rosto para que eu possa também confiar, crer em Ti, totalmente crer, em forma absoluta, purifica-me Senhor se não tenho depositado toda a minha confiança em Ti”.

Precisamos refletir que através da oração há uma progressiva revelação do rosto do único e verdadeiro Deus, assim, pois o caminho da espiritualidade significa encontrar todas essas faces de Deus, percorrer o caminho da própria revelação na experiência pessoal.

O QUE ESPERAMOS DAS PESSOAS x O QUE DEUS ESPERA DE NÓS

O QUÊ VOCÊ ESPERA DAS PESSOAS?

Precisamos saber que, certamente, em algum momento, precisamos ser misericordiosos para os outros. As pessoas não são perfeitas e cometerão erros. Elas certamente nos ferirão e nos decepcionarão, mas a verdade é que nós também faremos o mesmo com elas. Nem sempre tomamos conhecimento daquilo que fizemos de mal para o outro, mas sempre saberemos o que elas fizeram para nos ferir.

Se não sou perfeito, por que esperar a perfeição daqueles com quem me relaciono? Realmente acredito que nossas imperfeições são a razão pela qual Deus nos disse para sermos rápidos em perdoar. Ele preparou uma provisão de perdão para todos os nossos erros ao nos perdoar e nos dar a capacidade de perdoar os outros, se estivermos dispostos a isso. Precisamos perdoar e demonstrar misericórdia
para com os outros, repetidas vezes, ao longo de nossas vidas.

Pare de exigir que o outro seja perfeito. Perceba o quanto Deus é misericordioso conosco e decida fazer
o mesmo por ele. Será que você tem pressionado seu próximo para que ele seja perfeito?
Você tem sido duro, rude e exigente? Você é generoso e misericordioso? Essas são algumas boas perguntas que devemos fazer a nós ocasionalmente. Responda-as sinceramente e se a sua
atitude não for como a de Jesus, peça a Ele para ajudá-lo a mudar.

Precisamos renovar nossa mente e nossa atitude diariamente. Nem sempre o nosso bom comportamento
é de forma natural. Às vezes, permitimos que as coisas desandem e precisamos renovar o compromisso de fazer as coisas do jeito de Deus. Se você está hoje vivendo esse momento, não há porque se envergonhar. Alegre-se, pois com a ajuda de Deus você pode ser capaz de enxergar a verdade que o
libertará.

O QUE DEUS ESPERA DE NÓS

Deus conhece cada pecado que cometemos antes mesmo de o fazermos. Ele conhece a nossa estrutura,
sabe que não somos nada além do pó, por isso não espera que não cometamos erros. Deus nunca é pego de surpresa quando passamos por provações, Ele tem a solução planejada antes mesmo
que o problema apareça diante de nós. Deus nunca se surpreende com nossos defeitos e nossa carnalidade. Ele já decidiu ser misericordioso.

Deus espera de nós somente uma coisa: que amemos e queiramos fazer Sua vontade. Ele quer que, prontamente, nos arrependamos e trabalhemos com o Espírito Santo em busca da maturidade espiritual. Ele não se sente irado, porque ainda não chegamos lá, mas espera nos ver prosseguindo para a marca da perfeição.

São Paulo apóstolo disse que seu único objetivo era deixar o que ficou para trás e prosseguir para o alvo da perfeição (cf. Fl 3,13). Imagine só, Paulo, responsável por receber e escrever dois terços do Novo Testamento, ainda estava prosseguindo para o alvo. Somos encorajados por saber que Deus nos conhece e entende que somos seres humanos nascidos de novo, cujo coração foi renovado, mas a alma e o corpo ainda estão tentando acompanhar a grande obra que Ele fez em meu espírito.

A verdade é que Deus não espera que sejamos perfeitos. Se fôssemos capazes de viver sem pecado, não precisaríamos de Jesus, mas precisamos Dele a cada instante e todos os dias. Ele está, atualmente, sentado à direita de Deus intercedendo por nós (cf. Rm 8,34). Ele perdoa sempre nossos pecados se nós
os admitirmos e nos arrependermos (cf.1Jo 1,9). Deus definitivamente preparou uma provisão de valor, provisão de perdão para os pecados e é por Sua grande misericórdia que podemos permanecer em comunhão e ter um relacionamento com Ele, embora ainda não tenhamos alcançado a perfeição
em nosso comportamento.

CRISTO SE FEZ PEQUENO PARA ESTAR JUNTO DE NÓS

Jesus nasce na pobreza. Diante deste mistério tão grande, Deus nos toca com a simplicidade daquele ambiente. Envolto em panos, acomodado numa manjedoura, tem grandes riquezas, esplendor. Ali
estava o Filho de Deus: Jesus Cristo, o Rei deste universo. Ele nasceu indefeso, mas segundo o
desígnio do Pai, desígnio de realeza, de majestade, de esplendor.

A criança indefesa é forte, porque Deus o faz forte!
Ele é o Senhor do universo, Ele é o Rei. Porém, tinha que nascer bem pobre, pois assim era o desejo do
Pai, que o Filho fosse pobrezinho para mostrar ao mundo que não importa ter poder, riqueza. Ele não
teve um nascimento glorioso, tudo aconteceu na fragilidade daquela pobreza, mas a riqueza está
naquela criança, que é o Senhor, que nasce em cada coração aberto a Ele.

Observemos os sinais que são de Deus, presente no nascimento de Jesus: pobreza, despojamento, a
fragilidade de Maria e de José, na dificuldade para encontrar uma hospedaria, e na gruta, tão pobrezinha,
onde Maria trouxe ao mundo o Salvador.

Também em nossa vida cristã, temos que preparar uma manjedoura para Cristo. Devemos
prepará-la com nossa simplicidade, na nossa pobreza, com nossa vontade de dedicar especialmente um lugar santo para Cristo, o lugar feito com nossa santidade de vida. Coloquemos, portanto, no centro de nossa vida, nossa manjedoura, o Coração de Cristo. Como manjedoura, voltemos nosso coração a Ele, para que resplandeça em nós e seja o Senhor da nossa vida!.

PARA MEDITAR

Cristo tem sido o centro da minha vida?

PARA REZAR

Senhor, que minha boca propague Vosso amor e misericórdia.

PARA PENSAR

A pobreza de Jesus mostrou o desígnio do Pai em torná-Lo o Rei deste universo.