Papa Leão XIV: um novo tempo de esperança para a Igreja

A escolha do Papa Leão XIV emocionou o mundo.

Naquela tarde, de 8 de maio de 2025, a Praça de São Pedro foi tomada por uma atmosfera de expectativa e oração. Após a quarta votação do conclave, a fumaça branca finalmente surgiu da Capela Sistina, anunciando ao mundo a eleição do novo Papa: o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost. 

De modo surpreendente, sua escolha foi uma surpreendente manifestação da liberdade do Espírito Santo, que conduz a Igreja com sabedoria e novidade. Seu nome não figurava entre os mais mencionados nas listas de possíveis sucessores de Pedro, tornando sua eleição uma belíssima surpresa do Espírito. 

O nome e o legado

Desse modo, com a escolha do nome Leão XIV pelo novo pontífice, Robert Francis Prevost evoca simbolicamente o legado de Leão XIII, conhecido por seu compromisso com a justiça social e a abertura ao mundo moderno. Leão XIII é lembrado por sua encíclica Rerum Novarum, que inaugurou a Doutrina Social da Igreja, abordando questões como os direitos dos trabalhadores e a relação entre capital e trabalho. 

Assim, ao adotar esse nome, o Papa Leão XIV sinaliza uma continuidade com esses valores e uma atenção renovada às transformações do tempo presente. 

Primeiras palavras do Papa Leão XIV

Logo após sua eleição, Papa Leão XIV dirigiu-se aos fiéis com palavras que ecoaram os ensinamentos de Cristo: “A paz esteja com todos vocês!” Em seu discurso, enfatizou o desejo de uma Igreja sinodal, que caminha unida, buscando sempre a paz, a caridade e a proximidade com os que sofrem. Suas palavras foram recebidas com aplausos e lágrimas de emoção. Refletiam seu compromisso com uma Igreja sinodal e missionária.

Uma trajetória marcada pelo serviço e liderança

Desde os primeiros passos de sua vocação, Robert Francis Prevost mostrou sensibilidade pastoral e vocação para o serviço. Nascido em 14 de setembro de 1955, em Chicago, Estados Unidos, ingressou na Ordem de Santo Agostinho em 1977. 

Mais adiante, fez seus votos solenes em 1981 e foi ordenado sacerdote em Roma, em 19 de junho de 1982. Em 1985, iniciou sua missão no Peru, onde atuou por quase vinte anos nas cidades de Chulucanas e Trujillo, com dedicação pastoral, formativa e acadêmica, sempre próximo das comunidades mais vulneráveis. 

Em seguida, em 1999, foi eleito Prior Provincial da Província de Chicago e, em 2001, tornou-se Prior Geral da Ordem de Santo Agostinho, cargo que ocupou até 2013. Nesse período, fortaleceu a presença da ordem no mundo, ampliou sua visão pastoral e consolidou uma liderança sensível aos desafios sociais e culturais da Igreja.

Chamado ao episcopado e ao cardinalato

Posteriormente, em três de novembro de 2014, o Papa Francisco o nomeou administrador apostólico da Diocese de Chiclayo, no Peru, e bispo titular de Sufar. Foi ordenado bispo em 12 de dezembro daquele ano e, em 26 de setembro de 2015, foi confirmado como bispo diocesano de Chiclayo. 

À frente da diocese, aprofundou seu estilo pastoral simples e próximo, promovendo a formação de agentes de pastoral, fortalecendo os vínculos com as comunidades e mantendo um perfil de pastor acessível e comprometido com as realidades do povo.

Assim, em reconhecimento à sua atuação episcopal, o Papa Francisco o chamou a Roma e, em 30 de janeiro de 2023, nomeou-o prefeito do Dicastério para os Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina. Poucos meses depois, em 30 de setembro, Prevost foi criado cardeal.

Em síntese, as nomeações expressaram a confiança da Santa Sé em sua escuta, discernimento e visão universal, qualidades que o prepararam para o pontificado.

Papa Leão XIV Leão e a Imprensa

Logo após o início do pontificado, Papa Leão XIV encontrou-se com jornalistas em 12 de maio de 2025, na Sala Paulo VI. A audiência refletiu seu estilo próximo e espontâneo, com reflexões sobre comunicação, paz e responsabilidade.

Durante o encontro, o Papa destacou o papel essencial da imprensa como promotora da verdade e da escuta dos mais vulneráveis. Encorajou uma comunicação valente e construtiva, que una e não divida. Disse que comunicar bem exige escuta e empatia.

Com firmeza, também expressou solidariedade aos jornalistas que atuam em contextos de guerra. Lembrou que muitos arriscam a vida para contar o que viram. Pediu orações, liberdade e respeito para todos os que se comunicam em nome da verdade.

Por fim, ao encerrar, agradeceu o trabalho da imprensa e lembrou que palavras podem curar, mas também podem ferir. Por isso, pediu coragem e ternura aos que têm o microfone nas mãos.

Acompanhe este novo tempo de esperança

Por essa razão, convidamos você a seguir acompanhando de perto este novo tempo que se inicia com o Papa Leão XIV. 

Portanto, cada palavra, gesto e escolha pastoral deste pontífice renova o chamado à comunhão, à paz e ao serviço. Que essa caminhada sinodal, guiada pelo Espírito Santo, continue inspirando nossas comunidades em todo o mundo. 

A ciência como luz em meio à escuridão

O papel da ciência na compreensão do suicídio — primeira palestra do segundo dia do VIII Congresso Âncora

Na primeira palestra do segundo dia do VIII Congresso Âncora, o Dr. Maurício Nasser Ehlke, representante do Centro Âncora de Revitalização, apresentou uma análise profunda sobre o suicídio como um problema de saúde pública global. 

Ele destacou como a ciência contribui significativamente para a identificação de causas, riscos e formas de prevenção, fornecendo uma base sólida para compreender essa questão de maneira mais abrangente.

Para começar, o palestrante trouxe dados alarmantes da Organização Mundial da Saúde (OMS), revelando que 703 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano. Além disso, apontou que 90% dos casos estão relacionados a transtornos mentais, reforçando a necessidade de investir em estratégias de cuidado psicológico e psiquiátrico.

Psiquiatria e psicologia: diagnóstico e terapia

Além disso, Dr. Ehlke abordou como a psiquiatria e a psicologia desempenham um papel crucial na prevenção do suicídio. A identificação de transtornos como depressão e bipolaridade é essencial para possibilitar um tratamento eficaz. Ele também enfatizou fatores de risco como desesperança, impulsividade e isolamento, que podem aumentar a vulnerabilidade de um indivíduo.

Outro ponto importante foi a relevância de terapias psicológicas bem estruturadas, destacando a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) como uma das abordagens mais eficazes na redução da ideação suicida e na promoção da resiliência emocional.

Neurociência: o impacto do cérebro no comportamento suicida

Em seguida, a palestra explorou a contribuição da neurociência para o entendimento do suicídio. Pesquisas revelam que alterações nos neurotransmissores, como a serotonina, podem estar diretamente ligadas a transtornos psiquiátricos e ao aumento do risco de suicídio.

Além disso, imagens cerebrais avançadas têm permitido identificar padrões de ideação suicida, oferecendo um olhar mais preciso sobre os mecanismos biológicos envolvidos no processo. A busca por marcadores biológicos de risco também foi discutida como um caminho promissor para aprimorar métodos de diagnóstico e intervenção precoce.

Genética: predisposição ao suicídio e influência ambiental

Outro tópico relevante abordado pelo palestrante foi o papel da genética no comportamento suicida. Estudos sugerem que há uma predisposição genética, evidenciando que certos indivíduos podem ter uma maior vulnerabilidade ao suicídio devido à interação entre genes e ambiente.

A genômica, por sua vez, tem ajudado na identificação de pessoas em risco, permitindo abordagens mais direcionadas na prevenção do suicídio.

Sociologia e antropologia: fatores sociais e culturais

A palestra também enfatizou como aspectos sociais e culturais influenciam os índices de suicídio. Questões como pobreza, violência e exclusão social foram apontadas como fatores que aumentam significativamente a vulnerabilidade de determinados grupos.

Além disso, valores culturais e percepções sobre saúde mental impactam a forma como diferentes sociedades lidam com o tema. O palestrante destacou a necessidade de uma abordagem sensível para atender populações vulneráveis, incluindo indígenas, idosos e a comunidade LGBTQIA+, que enfrentam desafios específicos na prevenção ao suicídio.

Epidemiologia: mapas populacionais e políticas públicas

Outro aspecto essencial abordado na palestra foi o papel da epidemiologia, ciência que estuda padrões populacionais e regiões de risco. Essa análise permite a formulação de políticas públicas eficazes, contribuindo para prevenir surtos locais e direcionar recursos para onde são mais necessários.

Tecnologia e prevenção: inteligência artificial no auxílio à saúde mental

Por fim, Dr. Maurício discutiu como a tecnologia tem sido utilizada na prevenção do suicídio. Aplicações inovadoras, como algoritmos de redes sociais para detectar comportamentos de risco, podem ajudar a identificar indivíduos em situação de vulnerabilidade.

Além disso, plataformas digitais de apoio psicológico e atendimento emergencial online foram apresentadas como recursos valiosos para oferecer suporte imediato e reduzir riscos em momentos críticos.

Conclusão: A ciência como pilar fundamental na prevenção do suicídio

Encerrando sua apresentação, Dr. Ehlke enfatizou que os avanços científicos têm sido essenciais para ampliar o entendimento sobre o suicídio, tornando possível desenvolver estratégias de prevenção mais eficazes.

Ele destacou a necessidade de reduzir o estigma em torno do tema e investir continuamente em saúde mental, garantindo que pessoas em sofrimento tenham acesso a suporte adequado. Além disso, reforçou que a união entre diferentes áreas do conhecimento é indispensável para promover ações concretas, fortalecendo redes de apoio e salvando vidas.

Após a palestra, os participantes foram convidados a desfrutar de um coffee break, um momento especial para registros fotográficos, trocas de experiências e o fortalecimento de novas conexões.

Um diálogo que virou partilha: Frei Sidney no podcast do Congresso Âncora

Na manhã deste sábado (03), tivemos o privilégio de receber o Frei Sidney Damasio para a gravação de um episódio especial do nosso podcast, abordando o tema central de sua palestra e outras reflexões sobre sua missão.

Logo após a gravação, convidamos o Frei para o que seria uma breve entrevista com três perguntas que se transformou em uma partilha profunda, sensível e necessária — daquelas que nos tiram do automático e nos lembram do valor da escuta verdadeira.

Iniciamos nossa conversa falando sobre a importância de eventos como o Congresso Âncora, com o tema: “Acolher e cuidar: a missão da Igreja na prevenção do suicídio”

Frei Sidney abriu o diálogo dizendo que “desde que cheguei ontem, senti o desejo de saudar a irmã Adenise e destacar a importância de tratarmos de um tema como este. O suicídio ainda é um tabu. Por muitos motivos, existe o receio de que falar sobre isso possa incentivar a prática — e, por isso, o silêncio ainda prevalece.

Mas o silêncio também nos impede de prevenir. A experiência do suicídio não é trágica apenas para quem a vive diretamente, mas também para todos que estavam em relação com essa pessoa. O que fica é um rastro de dor, culpa e negação.É uma situação complexa, que atinge profundamente o entorno.

Por isso, falar sobre o tema é fundamental: nos ajuda a compreender suas origens e, principalmente, nos permite identificar sinais e oferecer ajuda.Quando evitamos o assunto, corremos o risco de construir ambientes que, sem perceber, favorecem esse tipo de desfecho.

Perguntamos ao Frei sobre o papel das comunidades religiosas nesse contexto. 

Frei Sidney, embora ressalte que não há uma relação direta de causa e efeito entre vida comunitária e suicídio, acredita que uma fraternidade sadia — onde há espaço para acolher, escutar e apoiar — pode ser um verdadeiro abrigo em meio às dores silenciosas. O suicídio é sempre consequência de um sofrimento insuportável. A recusa à vida parece, naquele momento, menos dolorosa do que continuar vivendo. Por isso, precisamos estar atentos aos sinais e sermos presença de esperança.

Ao falarmos sobre campanhas como o Setembro Amarelo, Frei Sidney pontuou algo essencial: mais do que estatísticas e alarmes, precisamos resgatar o sentido da vida. “O sentido não se dá, ele se descobre”, lembrou ele, citando uma das falas ouvidas durante o Congresso. Em um mundo cada vez mais utilitarista, onde pessoas são valorizadas apenas pelo que produzem, ele nos convida a redescobrir o valor do ser — não apenas do fazer.

Por fim, conhecemos um pouco mais da trajetória do Frei Sidney.  Ele é doutor em Teologia Espiritual, com formação em psicopedagogia, arte sacra e simbologia franciscana, ele hoje atua como professor e pregador de retiros. Sua caminhada une espiritualidade, psicologia e arte como caminhos complementares para cuidar da alma e iluminar o sentido da existência.

Mais do que conversar sobre o episódio de seu podcast, esta conversa foi um convite à escuta, à empatia e ao cuidado. Que possamos, como Igreja e sociedade, continuar criando espaços onde a vida seja sempre valorizada — em toda sua fragilidade, beleza e complexidade.

Em breve, os episódios completos do podcast com Frei Sidney Damásio estarão no ar. Uma conversa profunda, necessária e repleta de partilhas que tocam o coração e nos ajudam a refletir sobre acolhimento, fraternidade e sentido da vida.

Lembramos que gravamos com todos os palestrantes do VIII Congresso.

Acompanhe, assista e compartilhe. Essa é uma escuta que pode transformar — e, quem sabe, até salvar — vidas.

Segundo dia do Congresso Âncora começa com alegria, santa missa e a memória viva do início da missão

Uma manhã marcada por fé, partilha e o reencontro com o sentido mais profundo da missão.

O segundo dia do VIII Congresso Âncora começou com grande alegria, acolhimento fraterno e o desejo renovado de mergulhar na escuta e no cuidado interior. Logo no início da manhã, os participantes foram convidados a participar da Santa Missa, presidida pelo padre Clayton Adriano Delinski Ferreira, que levou a assembleia a uma experiência profunda de oração e intimidade com Deus.

Durante a homilia, o sacerdote convidou todos a se deixarem encontrar por Jesus:

“Mostra-nos o Pai e ajuda-nos a entender quem o Pai é para nós e quem nós somos. Hoje, que nós possamos, por meio de Jesus, saciar o nosso coração com a plenitude — daquilo que completa, daquilo que revela não só Deus para nós, mas quem nós somos. O projeto da nossa vida, o sentido da nossa existência. O propósito que temos: fazer com que o dom da nossa vida também busque servir, completar não só a nossa história, mas também alcançar o outro. O homem é feito para o caminho. Jesus é o caminho. Quantas vezes escolhemos uma vida sem rumo? Mas Ele se apresenta: ‘Sou o caminho’ — para quem está no atalho. ‘Sou a verdade’ — para quem vive a confusão. E para a plenitude da sua vida, é preciso fazer o processo comigo. Caminhe comigo. Caminhe orientado na verdade, e o teu coração encontrará completude, plenitude, o Pai. O que nos basta. Porque o Pai é o que nos faz viver o projeto que Deus espera de todos nós.”

Logo após a missa, a Irmã Adenise foi chamada ao palco para fazer memória da origem do Congresso. Sua partilha trouxe à tona a beleza dos pequenos começos e a fidelidade ao chamado de Deus:

“Só contextualizando um pouco como surgiu o Congresso. Às vezes a gente pensa: ‘Nossa, tem um Congresso, depois outro…’, mas como é que surgiu esse evento?

Primeiro surgiu o Âncora — o Centro de Revitalização. Iniciamos um trabalho com sacerdotes e religiosos. Eu pediria para o Maurício, a Ivana e o Vicente se colocarem em pé… Acho que são vocês que estão aqui, né? Então, esses são os membros que fazem parte desde o início da fundação.

E nós começamos de uma forma muito… caminhando. Sentindo a necessidade dos sacerdotes. Mas não tínhamos um projeto, não tínhamos uma realidade financeira que nos sustentasse… Fomos tentando, de forma experimental mesmo. E o Maurício… parecia que ele sabia tudo!

Caminhando com essa realidade do Âncora, sempre sentimos a necessidade de fazer os Congressos — algo que ampliasse a formação que era dada ali, inicialmente, só para quem fazia o processo no Âncora.

O Congresso surgiu como uma forma de apresentar o Centro Âncora para a Igreja. Pensamos: ‘O que a gente vai fazer?’ — ‘Vamos fazer um Congresso!’ Mas não pensamos exatamente em como seria… E de repente, ele aconteceu.

Padre, foi lá na casa de vocês que começou! Foi lá no salão de vocês que fizemos o primeiro Congresso, com 60 pessoas. Foi muito bom.

E daí foi seguindo, a cada dois anos, procurando trabalhar temas que fluem durante o processo no Âncora. As pessoas trazem suas dúvidas, e a partir da escuta da realidade, nós trazemos os temas para o Congresso, convidando pessoas que fazem e não fazem parte do nosso dia a dia, mas que podem colaborar.

Então essa é um pouquinho da história da nossa casa. E mais uma vez eu agradeço toda essa equipe que caminha na fidelidade. E às novas que foram chegando também… Porque estamos chegando neste momento!

Um bom encontro para cada um de nós no dia de hoje. Muito obrigada!

Com palavras cheias de verdade, a Irmã Adenise tocou os corações ao recordar que o Congresso nasceu da escuta e da coragem de confiar. O público respondeu com aplausos emocionados, reconhecendo a fidelidade do caminho.

Lembramos que em breve, os podcasts com os principais momentos do Congresso estarão disponíveis. Assista, compartilhe e leve essa missão ainda mais longe!

Palestrantes do VIII Congresso Âncora gravam podcasts e compartilham suas experiências sobre prevenção ao suicídio

Os palestrantes do VIII Congresso Âncora participaram da gravação de podcasts exclusivos, explorando os temas de suas palestras e abordando questões fundamentais sobre a prevenção ao suicídio.

Para conhecer melhor a perspectiva desses profissionais, conversamos com eles sobre a importância do congresso e sobre suas atuações na área atualmente.

Nesta breve entrevista, a assessoria de comunicação do evento, após a gravação do podcast,  conversou com o Dr. Cloves Amorim,  que é psicólogo, professor e pesquisador, referência em luto, suicídio e cuidados paliativos,

Qual é a importância de um congresso como este, promovido pelo Centro Âncora, que traz o suicídio para o centro do debate?

É fundamental que a gente fale sobre esses temas difíceis que, em geral, são evitados. O silêncio em torno do suicídio só contribui para aumentar o sofrimento das pessoas. Precisamos falar sobre isso nos congressos, mas com responsabilidade. Não podemos tratar o suicídio de forma leviana, como se fosse uma saída para quem sofre. Essa iniciativa do Centro Âncora é fantástica porque traz essa temática para um debate responsável e consciente.

Como o senhor atua hoje como psicólogo? Qual é o foco do seu trabalho?

Meu trabalho é focado em terapia, especialmente atendendo casais e famílias. Acredito que as relações mais próximas e íntimas são determinantes na saúde emocional das pessoas. Os conflitos familiares são muitas vezes mais visíveis e impactantes do que questões individuais, e quando não tratados, geram muito sofrimento e adoecimento.

Ainda há um mito sobre falar de prevenção ao suicídio? Como equilibrar a necessidade de abordar o tema com a responsabilidade que ele exige?

Sim, ainda existe um mito. É preciso falar, mas de maneira responsável. Por exemplo, muitos acreditam que a mídia não deve divulgar números sobre suicídio, e eu entendo esse cuidado. As estatísticas são relevantes para profissionais da saúde, mas não para o público em geral. O que realmente importa é divulgar fatores de risco, medidas de prevenção e incentivar as pessoas a procurarem ajuda.”

Campanhas como o Setembro Amarelo são eficazes nesse processo de prevenção?

Sim, essas campanhas são muito positivas. Elas incentivam as pessoas a buscarem apoio e proporcionam um suporte essencial. Tenho acompanhado a forma como essas campanhas vêm sendo divulgadas e percebo que elas têm sido focadas na prevenção. Isso já salvou inúmeras vidas, porque pessoas que estavam desistindo encontram nessas iniciativas um incentivo para buscar ajuda.

Os podcasts gravados no congresso aprofundam os temas das palestras e exploram questões essenciais sobre prevenção ao suicídio e saúde mental. Neles, os palestrantes ampliam as discussões e apresentam diferentes perspectivas sobre suas áreas de atuação e os desafios enfrentados na sociedade.

Ficou curioso para saber mais? Então, acompanhe nossas redes! Em breve, o podcast com o Dr. Cloves e os demais palestrantes estarão no ar em breve, trazendo debates enriquecedores e informações essenciais sobre o tema. Não perca!

Vem aí: podcasts do VIII Congresso Âncora com debates essenciais sobre prevenção ao suicídio

Em breve, os podcasts do VIII Congresso Âncora estarão no ar, trazendo reflexões profundas sobre prevenção ao suicídio, abordadas pelos palestrantes do evento. Logo após a gravação do episódio com o Dr. Carlos Tadeu Grzybowski (Carlos Catito), conversamos com ele sobre os temas discutidos e sua atuação na área.

Qual é a importância de um congresso como este, promovido pelo Centro Âncora, que traz o suicídio para o centro do debate?

Pra mim, é fundamental que a gente fale sobre esses temas difíceis, que, em geral, são evitados. É muito importante. Acredito que precisamos criar uma consciência coletiva para que se gere cada vez mais saúde emocional, seja dentro dos espaços religiosos, seja na comunidade em geral. 

Devemos falar sobre isso em congressos, mas de forma responsável. Não podemos tratar o suicídio de maneira irresponsável, fazendo apologia ou minimizando o sofrimento de quem passa por isso.

O tema deve ser abordado com responsabilidade e consciência. Por isso, considero fantástica a iniciativa do Centro Âncora de trazer essa discussão para o congresso.

Como o senhor atua hoje como psicólogo? Qual é o foco do seu trabalho?

Eu trabalho como psicólogo e terapeuta, especialmente atendendo casais e famílias. Minha visão é de que as relações em que estamos inseridos, especialmente as mais próximas e íntimas, são construtoras de saúde ou de doença emocional.

Por isso, o foco do meu trabalho está nas relações e nos conflitos familiares. Esses desafios, muitas vezes, são mais visíveis e impactantes do que questões individuais. Quando não tratados, geram muito sofrimento e adoecimento.

Ainda há um mito sobre falar de prevenção ao suicídio? Como equilibrar a necessidade de abordar o tema com a responsabilidade que ele exige?

Sim, ainda existe um mito em torno da fala sobre suicídio. É preciso abordar o tema, mas com responsabilidade. A ideia de que a mídia não pode divulgar números, por exemplo, faz sentido. As estatísticas são importantes para profissionais da área de saúde, mas não para a sociedade em geral.

O que realmente importa para a população é discutir os fatores de risco e entender como reduzi-los. Essas são medidas efetivas de prevenção. A mídia deve se concentrar essencialmente na prevenção, porque, depois que o fato acontece, apenas explicar os motivos não muda nada. 

Agora, se comunicamos de forma preventiva, dizendo ‘Se você está passando por dificuldades, procure ajuda’, isso, sim, faz diferença.

Campanhas como o Setembro Amarelo são eficazes nesse processo de prevenção?

São muito positivas. Elas incentivam as pessoas a buscarem apoio e proporcionam um suporte essencial. A forma como têm sido divulgadas contribui para que mais pessoas percebam que ainda existem alternativas. Já salvou inúmeras vidas. Pessoas que estavam desistindo, ao verem essas campanhas, decidiram buscar ajuda porque entenderam que ainda há uma solução.

Os podcasts gravados no congresso aprofundam os temas das palestras e exploram questões essenciais sobre prevenção ao suicídio e saúde mental. Neles, os palestrantes ampliam as discussões e apresentam diferentes perspectivas sobre suas áreas de atuação e os desafios enfrentados na sociedade.

Padre Lício de Araújo Vale conversou com a jornalista da Copiosa Redenção Lydiana Rossetti.

Os podcasts gravados com a Ir. Silvia Maria CR e do Pe Lício de Araújo Vale trazem grandes tesouros sobre o tema. E tem, muito mais vindo por aí com o segundo dia do congresso.

Quer acompanhar essas reflexões? Fique ligado em nossas redes! Em breve, o podcast com Carlos Catito e os demais palestrantes estará no ar, trazendo debates enriquecedores e informações fundamentais sobre o tema.

Culpa e luto

Ricas reflexões e intervenções marcam a quarta palestra do VIII Congresso Âncora.

Na quarta palestra, o Prof. Dr. Cloves Antônio de Amissis Amorim compartilhou uma abordagem profunda sobre o processo do luto, enfatizando sua complexidade e as estratégias terapêuticas que podem auxiliar na ressignificação da perda. 

A apresentação explorou desde os fundamentos da tanatologia até os desafios enfrentados por enlutados, especialmente aqueles que vivenciam o luto por suicídio.

Conceitos essenciais do luto

Para começar, Dr. Amorim destacou que a experiência do luto envolve pesar, ou seja, os sentimentos internos relacionados à perda, e o luto como expressão pública desse pesar. Ele ressaltou que manifestações como chorar, falar sobre o falecido e marcar datas especiais são processos naturais e necessários para a vivência saudável do luto.

Além disso, foram discutidos os diferentes tipos de luto, incluindo o luto normal, caracterizado por emoções como tristeza, raiva, culpa, ansiedade, solidão e alívio. O palestrante  também abordou sensações físicas comuns no luto, como aperto no peito, fraqueza muscular e alterações na percepção da realidade, além de mudanças cognitivas como descrença, confusão e sensação de presença da pessoa falecida.

Luto complicado e transtorno de luto prolongado

Em seguida, um dos tópicos centrais da palestra foi o luto complicado, que pode surgir como luto crônico, adiado ou inibido, representando um sofrimento intenso e prolongado. 

Dessa forma, Dr. Amorim apresentou os critérios do DSM-5-TR para o Transtorno de Luto Prolongado, ressaltando sintomas como entorpecimento emocional, solidão intensa e sensação de que a vida perdeu o sentido.

O luto por suicídio: culpa e pósvenção

Logo depois, o palestrante dedicou parte significativa de sua apresentação ao luto por suicídio, um dos mais desafiadores para os sobreviventes. 

Ele destacou que familiares e amigos costumam lidar com questionamentos corrosivos, culpa intensa e estigma social. Segundo estudiosos da área, como Fukumitsu, Clark e Worden, a culpa pode ser uma estratégia inconsciente para manter viva a memória do falecido, gerando um ciclo emocional complexo, disse o Dr. Cloves. 

O Dr. Amorim enfatizou a importância da pósvenção, conceito que se refere ao suporte oferecido aos enlutados para transformar o trauma em lembranças menos dolorosas. Nesse contexto, a terapia deve focar na ressignificação da perda, permitindo aos sobreviventes lembrar do falecido não apenas pelo ato do suicídio, mas pela sua trajetória de vida.

Psicoterapia e estratégias de intervenção

Além disso, a palestra também abordou diversas estratégias terapêuticas para acompanhar o luto. O palestrante destacou o uso do baralho terapêutico “Conversando sobre o Luto”, dividido em sete eixos temáticos, incluindo expressão, narrativa e reconstrução.

Do mesmo modo, reforçou a importância da psicoeducação como ferramenta inicial e da criação de espaços seguros para a verbalização do sofrimento.

Outro aspecto essencial destacado foi o cuidado com a linguagem dos profissionais de saúde, que devem evitar julgamentos e oferecer acolhimento compassivo. Mais ainda, Dr. Amorim alertou sobre experiências negativas que ocorrem quando os enlutados percebem falta de empatia ou comunicação estigmatizante por parte dos terapeutas.

O papel da Igreja na prevenção e acolhimento

Para finalizar, o professor ressaltou o papel essencial da igreja na prevenção do suicídio e no suporte ao luto. A espiritualidade pode oferecer significado, apoio emocional e conexão social, ajudando os enlutados a lidarem com a perda de maneira saudável. 

Por essa razão, grupos de apoio organizados por instituições religiosas também podem facilitar a aceitação da dor e estimular a construção de redes de suporte.

Com uma abordagem sensível e humanizada, o Prof. Dr. Cloves Amorim trouxe reflexões essenciais sobre o impacto do luto na vida das pessoas e a necessidade de intervenções terapêuticas eficazes, reforçando a importância da empatia e do acolhimento no processo de superação da dor.

A quarta palestra finalizou o dia intenso e rico de ensinamentos do VIII Congresso Âncora.

Acolher as próprias sombras. Nutrir a vida

 Reflexões profundas sobre acolhimento e espiritualidade na terceira palestra do VIII Congresso Âncora.

A terceira palestra do VIII Congresso Âncora, ministrada pela Irmã Silvia Cristina Maia, CR, trouxe uma abordagem profunda sobre a necessidade de acolher a própria sombra e redescobrir a mística da vida. A reflexão abordou temas fundamentais que unem espiritualidade e psicologia, proporcionando aos participantes um espaço de autoconhecimento e transformação.

A palestra explorou a aceitação de sentimentos difíceis, como tristeza e dor emocional, ressaltando que a depressão e estados depressivos fazem parte da vida humana e que compreendê-los é essencial para a construção de um caminho consciente. Além disso, foi discutido o impacto dos diferentes lutos, tanto aqueles que envolvem perdas concretas, como o falecimento de um ente querido, quanto os que marcam mudanças significativas ao longo da vida.

Um dos pontos centrais da reflexão foi a vergonha, culpa e pertencimento, e como a busca por um espaço seguro pode ajudar na ressignificação dessas emoções. O papel da palavra e do diálogo também foi enfatizado como instrumento de luz, permitindo que os indivíduos organizem seus afetos e compreendam melhor suas próprias histórias.

Outro tema relevante foi a sexualidade e identidade, destacando a importância de acolher essa dimensão sem medo, dentro da vivência pessoal e espiritual. Nutrir a vida também foi apontado como um caminho essencial, através do fortalecimento dos vínculos saudáveis, da presença do diálogo verdadeiro e da construção de relações profundas e autênticas.

O resgate da mística ocupou um lugar de destaque na palestra, trazendo a ideia de recuperar a capacidade de perceber o transcendente no cotidiano. A história do Anjo e Elias foi utilizada como metáfora da presença de um “eu auxiliar” no momento de sofrimento, mostrando como é possível reencontrar forças para seguir adiante.

Por fim, foram exploradas as reflexões de Hans Urs Von Balthasar, especialmente sobre o que significa e o que não significa testemunhar a fé. A Irmã Silvia reforçou que viver a espiritualidade vai além de compreender conceitos; trata-se de colocar a vida a serviço da verdade e do amor.

Com uma abordagem sensível e profunda, a palestra proporcionou aos participantes um momento de reflexão genuína sobre acolhimento, liberdade e sentido da existência, integrando teologia e psicologia em um caminho de crescimento e renovação espiritual.

Biografia

A Irmã Silvia Cristina Maia, CR é religiosa da Congregação das Irmãs da Copiosa Redenção. Bacharel em Teologia pelo Instituto Mater Eclesiae da Diocese de Ponta Grossa-PR, graduada em Psicologia pela FAE – Faculdade Franciscana de Ensino – Curitiba PR, e mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma – Itália.

Atua como membro da equipe de profissionais do Centro de Revitalização Âncora, onde trabalha no acompanhamento psicoespiritual. Também faz parte do corpo docente da Escola de Formadores Jesus Mestre – São Paulo-SP.

Trabalha com assessorias para a Vida Consagrada e Dioceses, além do acompanhamento psicoespiritual de religiosos, sacerdotes e seminaristas. É coautora dos livros: A Árvore das Reflexões, O Burnout: Entregar-se e não ser consumido pela exaustão e o estresse, e Formação e Desafios Morais III.

Segunda palestra aborda sofrimento e prevenção do suicídio no VIII Congresso Âncora

A segunda palestra do VIII Congresso Âncora, realizado sob o tema “Acolher e Cuidar: a missão da Igreja na prevenção do suicídio”, foi conduzida pelo psicólogo e terapeuta familiar Carlos Tadeu Grzybowski, com a profunda e sensível exposição “Quando a dor se torna insuportável”. A apresentação provocou uma intensa reflexão entre os participantes ao tratar o suicídio sob uma perspectiva transdisciplinar e relacional, indo além dos diagnósticos simplificadores.

Segundo Grzybowski, o suicídio não pode ser compreendido de forma linear ou com explicações únicas. Ele critica a visão cartesiana predominante na sociedade, que busca causas isoladas para fenômenos complexos como o sofrimento humano. Propõe, em seu lugar, uma abordagem que considere os múltiplos fatores — biológicos, familiares, sociais, culturais e espirituais — envolvidos na experiência da dor insuportável.

A partir da teoria dos sistemas, o palestrante destacou que o comportamento suicida é frequentemente uma tentativa de comunicação de um sofrimento que o indivíduo não consegue mais suportar. Ele alertou que essa dor, muitas vezes, está enraizada nos vínculos familiares e nas relações interpessoais, nas quais o sujeito se vê preso em papéis de vitimização, paralisia e impotência diante da vida.

Um ponto marcante da palestra foi a abordagem das relações sacrificiais, nas quais a vítima se mantém no controle por meio do sofrimento, culminando em uma transferência da dor: ao tirar a própria vida, a pessoa repassa a carga emocional ao outro, rompendo definitivamente com o sistema ao qual está inserida.

Grzybowski também fez uma análise corajosa sobre o sofrimento de líderes religiosos. De acordo com ele, o isolamento, a pressão institucional e a ausência de amigos verdadeiros têm levado muitos pastores e sacerdotes ao esgotamento emocional e espiritual. “Em encontros com outros líderes, todos contam vitórias. Mas é no consultório que os fracassos vêm à tona”, afirmou.

Ao final, o palestrante apresentou caminhos possíveis de cuidado e prevenção. Destacou a importância de amizades sinceras, de acompanhamento terapêutico e de espaços de escuta acolhedora, inclusive entre religiosos. “Mostrar a alguém que está assumindo um papel e que pode escolher outro caminho é abrir uma porta de esperança”, concluiu.

A palestra reforçou o compromisso do Congresso com a valorização da vida e o papel essencial da Igreja como espaço de escuta, acolhimento e cuidado com os que sofrem.

Sobre o palestrante:

Carlos Tadeu Grzybowski

  • Psicólogo (CRP 08/1117) – Universidade Federal do Paraná (1981)
  • Especialização em Terapia Familiar – Centro de la Familia – Quito/Equador (1988)
  • Mestrado em Psicologia da Infância e Adolescência – UFPR (2001)
  • Doutorado em Linguística Aplicada – UFPR (2009)
  • Autor de diversos livros, entre eles:
    • Acontece nas melhores famílias (2017)
    • Pais santos, filhos nem tanto (2012)
    • Como se livrar de um mau casamento (Prêmio ARETÉ – 2005)
    • Macho e Fêmea os criou: celebrando a sexualidade – Editora Ultimato
    • Quando a dor se torna insuportável – reflexões sobre o suicídio (2019)
    • Famílias saudáveis: a arte de fazer boas escolhas (2021)
    • De Santos e loucos: a igreja e a saúde mental (2023) – Editora Sinodal
  • Sócio-Diretor do Instituto Phileo de Psicologia
  • Coordenador de cursos de extensão e pós-graduação da EIRENE do Brasil
  • Presidente de EIRENE Internacional
  • Professor titular e coordenador de cursos de pós-graduação na Faculdade Luterana de Teologia – FLT (SC)
  • Professor do Centro Evangélico de Missões (MG) e da Faculdade de Teologia Sul Americana – FTSA (PR)
  • Criador do personagem infantil Smilingüido (1978)
  • Co-criador dos personagens do projeto Salvação (Prêmio ABEC 2002)

Instagram: @carloscatitogrzybowski

Primeira Palestra: Padre Lício Vale destaca o sentido da vida e caminhos para prevenir o suicídio

Em uma palestra comovente e profundamente reflexiva, o educador, pesquisador e suicidologista Padre Lício Vale conduziu os participantes do VIII Congresso Âncora a uma jornada de compreensão sobre o suicídio, defendendo a importância de conhecer e acolher para prevenir. Com base em sua própria história de vida — seu pai morreu por suicídio com apenas 43 anos —, o sacerdote compartilhou experiências e dados que lançam luz sobre um dos temas mais urgentes da saúde mental contemporânea.

A partir do tema “o sentido da vida”, o palestrante convidou a plateia a refletir sobre o sofrimento humano e as dores silenciosas que muitas vezes precedem o suicídio. Segundo ele, não se trata de um ato de covardia ou de falta de fé, mas de um grito de dor emocional insuportável. Nesse contexto, Padre Lício alertou para o uso incorreto da expressão “cometer suicídio”, explicando que a forma adequada e respeitosa é “morrer por suicídio”, a fim de evitar a culpabilização da pessoa que tirou a própria vida.

Em seguida, o especialista apresentou dados alarmantes. Em 2014, o mundo registrou aproximadamente 800 mil mortes por suicídio. Hoje, esse número chega a um milhão. No Brasil, cerca de 52 pessoas morrem por suicídio todos os dias. Entre adolescentes, essa é a segunda principal causa de morte, ficando atrás apenas da violência urbana.

Além disso, Padre Lício destacou três fatores de risco recorrentes na vida religiosa e sacerdotal: o estresse ocupacional, a solidão e a desesperança. “Mesmo vivendo em comunidade, muitos religiosos estão emocionalmente isolados”, afirmou. Ele também abordou causas frequentes como transtornos mentais não tratados, fatores familiares e sociais — como o desemprego —, abuso de álcool e drogas, e o preconceito ainda existente em torno da saúde mental.

Ao longo da palestra, o sacerdote desmistificou concepções equivocadas a respeito do suicídio, como a ideia de que quem fala sobre o assunto não tem intenção de concretizar o ato. Pelo contrário, segundo ele, a maioria das pessoas dá sinais claros, seja por falas diretas, indiretas ou mudanças de comportamento. “Perguntar sobre suicídio não incentiva ninguém a se matar. Pelo contrário: pode salvar vidas”, ressaltou.

Como proposta concreta de ação, Padre Lício apresentou a metodologia “ROC” – Reconhecer, Oferecer ajuda e Conduzir –, defendendo a escuta empática e o encaminhamento profissional como etapas essenciais na prevenção. “O suicida não quer matar a vida, mas sim sua dor. A prevenção começa quando reconhecemos esse pedido de socorro”, enfatizou.

Ao concluir, o palestrante fez uma profunda reflexão de fé, afirmando que a esperança de salvação não deve ser negada àqueles que morreram por suicídio. Com base no Catecismo da Igreja Católica (nº 2280-2283), lembrou que Deus, em sua misericórdia, pode oferecer caminhos de arrependimento mesmo após atos de desespero.

“Prevenir o suicídio é um ato de amor. E amor é o que nunca pode faltar”, finalizou Padre Lício Vale, sob aplausos dos presentes.

Sobre o palestrante

Padre Lício Vale é formado pela PUC-SP, qualificado em Suicídio e Automutilação pela UNIPAR, com especialização em Prevenção ao Suicídio pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atua como pesquisador sobre luto e valorização da vida, educador e palestrante. É membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio (ABEPS) e da Sociedade Internacional de Profissionais da Prevenção e Tratamento de Uso de Substâncias (ISSUP), entidade reconhecida pela ONU, OMS e OEA.

É autor de diversas obras, entre elas:

  • E foram deixados para trás – Uma reflexão sobre o fenômeno do suicídio
  • Acolher e se afastar: relações nutritivas ou tóxicas
  • Processos autodestrutivos: Por que permitimos nos machucar?
  • Mente suicida: Respostas aos porquês silenciados
  • Superando a perda de quem você ama

Seus livros foram publicados por editoras como Loyola, Paulus, Paulinas e Canção Nova. Filho de suicida, dedica sua vida a transformar dor em cuidado e esperança.