Categoria: Sem categoria
16 de novembro de 2022
Accountability: E você, a quem presta contas?
Liberdade nunca deve ser confundida com viver uma vida “solta”
Por Ir. Silvia Cristina Maia, CR
Accountability é a palavra inglesa para expressar algo parecido com “prestar contas”. A prestação de contas da qual quero falar não tem nada a ver com contabilidade. Tem a ver com a vida, com aquilo que aprendemos na infância e adolescência, com um valor que perdemos pelo nosso caminho e nem nos damos conta da importância que tem ou nem mesmo sabemos que é um valor!
Na nossa infância e adolescência escutamos: “Aonde você vai?, “Com quem vai?”, “Quem é a pessoa com quem estava falando?”, “Não vá para onde eu não possa te ver”. Todas essas frases e outras mais nos ensinam que não somos sozinhos, pertencemos a uma rede de relações, que temos que prestar contas e não estamos “soltos” no mundo.
Em um momento na vida achamos que de fato podemos sair por aí fazendo o que bem entendemos, como se nossas ações não afetassem a mais ninguém além de nós mesmos. Mas elas afetam! No final de tudo vamos nos encontrar com as consequências, e disso não podemos fugir.
Accountability é voltar a dizer a quem você sente que faz parte da sua vida aonde você vai ou para onde está indo, quem são seus amigos, quais são seus projetos e sonhos, o que anda fazendo, como anda a sua vida. Isso não faz de nós menos livres, muito pelo contrário, nos liberta de uma vida que deve ser escondida, nos liberta de uma vida numa prisão interior, nos liberta da solidão!
Pergunte-se: O que ando escondendo? O que não tenho coragem de falar a ninguém? Como dizia um professor em uma aula de espiritualidade: “Você é tão doente quanto os teus segredos!”.
Cure-se, preste conta de sua vida, permita que alguém faça parte dela. Viver sozinho dói mais!
Bibliografia
Santa Sé. Conscientização e Purificação (Atas do Encontro para a Proteção de Menores na Igreja). Brasília: Edições CNBB, 2019.
14 de novembro de 2022
13 de novembro de 2022
11 de novembro de 2022
10 de novembro de 2022
09 de novembro de 2022
Restauração do Ser – Parte 1
Um lugar para chamar de “Seu”
Por Ir. Silvia Cristina Maia, CR
“Descalça-te, pois o lugar que estás é Santo” (Ex 3,4)
Lembra daquele ursinho que você carregava por todo lado? Daquele carrinho? Daquele lenço que você vivia cheirando e arrastando pelo chão e “Deus o livre” de a sua mãe inventar de lavar? Lembra da boneca, chupeta ou qualquer outro objeto que você podia chamar de seu? Pois é, quem poderia imaginar que este objeto específico desempenhava uma função tão importante para o seu desenvolvimento.
Na verdade, devemos gratidão a tais objetos que nos permitiram passar pela ansiedade que toda a separação nos traz. Winicott deu a eles o nome de objetos transicionais. Quero usar este conceito de Winicott para lhes falar do espaço terapêutico, de como ele é importante e de como este espaço deve ser o lugar que você pode e deve chamar de “seu”
Alí no espaço terapêutico você precisa criar aquela familiaridade, sentir que naquele ambiente você pode, de fato, “tirar as sandálias” (Ex 3,5) e encontrar-se com o “EU SOU” (Ex 3,14) que vive dentro de você e que também lhe ajuda a reconhecer quem você realmente é, a sua verdade.
Também, alí no espaço terapêutico, você precisa saber que entra somente aquilo que você permite entrar. É o lugar da sua mais profunda intimidade, da mais profunda verdade, de verdades que você pronuncia sobre você mesmo, e neste momento quando escuta tais verdades pode passar pela alegria mais pura ou ainda pela dor mais profunda.
O lugar terapêutico é o lugar palpável da transição entre “o eu provisório e o eu real”, entre o “eu ideal e o eu atual”, é o lugar de palavras ditas muitas vezes sem pensar, e o lugar de silêncios que falam sobre sua verdade mais profunda. É o lugar onde tudo começa a fazer sentido. Onde você é o espectador e também o protagonista da sua própria vida.
Enfim, se você já criou esse lugar que pode chamar de “seu”, zele por ele. Não compartilhe suas intimidades com todos os que você encontra no seu caminho. Não permita que outros invadam este lugar, ou seja, ultrapassem aquela linha que limita nossas relações. O limite não deve ser ultrapassado a não ser que você mesmo autorize.
Sem zelo, este lugar de intimidade será objeto de uso de outros. Não poderá mais ser chamado de “seu” e entrará ali outras verdades, as verdades que não são as suas. Exatamente como quando a mãe lavava o lencinho que você arrastava pelo chão, ou ainda, quando tentaram lhe tirar o ursinho que lhe dava segurança e que tinha a função, naquele momento da sua vida, de lhe ajudar a lidar e suportar a ansiedade provocada pela sua Verdade. Qual verdade? Aquela de que nem tudo você pode controlar, de que na vida existem perdas e de que mesmo assim, no seu tempo, você é capaz de se adaptar. Se respeite e ensine aos outros o respeito que devem a você. Aprenda a guardar o seu lugar sagrado!
Referências:
BÍBLIA, ANTIGO Testamento. In: Bíblia de Jerusalém. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2004.
WINNICOTT, Donald. Per capire la Psicologia. La Psicologia delle Relazione Oggettuale. Hachette Fascicoli: Milano, 2016.
HOLLIS, James. A Passagem do Meio: da miséria ao significado da meia idade [tradução: Cláudia Gerpe Duarte]. São Paulo: Paulus, 1995.