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Setembro Amarelo: o impacto do suicídio na vida consagrada

29 de setembro de 2023

Setembro Amarelo: o impacto do suicídio na vida consagrada

Qual a importância da campanha Setembro Amarelo? De acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS) uma pessoa comete suicídio a cada 40 segundos em todo o mundo. Além disso, as estatísticas também apontam que, para cada suicídio consumado, existem 25 tentativas.

Contudo, essa não é uma realidade que atinge apenas pessoas afastadas do convívio de Deus, como muitos pensam. Muitos religiosos cometeram suicídio.

Apenas no Brasil, entre os anos de 2016 e 2023, 40 sacerdotes tiraram a própria vida. Esse número é apresentado pela pesquisa do Padre Lício de Araújo Vale.

Logo, é mais do que urgente que a comunidade religiosa volte seu olhar para o ser humano sofredor a fim de socorrê-lo e preservar sua vida. Afinal, os religiosos são pessoas que se alegram e que ficam tristes, se cansam, chegam à exaustão, choram e sofrem como qualquer pessoa comum.

Setembro Amarelo, o que é?

O Setembro Amarelo é uma campanha da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM); é o mês da prevenção ao suicídio.

Logo, durante todo o mês, a sociedade como um todo é chamada a refletir sobre a importância da prevenção, discutir e promover ações a respeito do suicídio. Sendo que, dentro da campanha Setembro Amarelo, o dia 10 desse mês é oficialmente o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.

De acordo com a última pesquisa realizada pela OMS, em 2019, foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados. Desta forma, estima-se mais de 1 milhão de casos. A pesquisa afirma ainda que todos os anos mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária, câncer de mama ou guerras e homicídios.

No Brasil, os números da pesquisa apontam cerca de 14 mil casos por ano, o que significa que em média 38 pessoas cometem suicídio por dia.

De acordo com a página oficial da campanha Setembro Amarelo, praticamente 100% de todos os casos de suicídio estão relacionados às doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente.

Logo, isso significa que a maioria dos casos poderia ter sido evitado se essas pessoas tivessem recebido tratamento psiquiátrico adequado e informações de qualidade.

A campanha Setembro Amarelo deste ano tem como tema “Se precisar, peça ajuda!”.

Setembro Amarelo na comunidade religiosa

O pesquisador Padre Lício afirma que “tanto a Igreja quanto os próprios sacerdotes enfrentam o desafio de atuar numa sociedade cada vez mais individualista, secularizada e espetacularizada”. E que esta sociedade “apresenta grandes exigências causadas pelas mudanças sociais e pela pluralidade de valores”.

Ele chama atenção para o fato de que existe um dilema entre a imagem teológica e a sociológica dos padres. E que “em muitos casos, a imagem teológica do sacerdote se contrapõe à imagem sociológica”. E isso é um grande agravante para doenças mentais, como depressão e ansiedade.

Padre Lício explica que “a imagem teológica é aquela que o sacerdote projeta quando celebra os sacramentos, e quando se relaciona com seus colaboradores mais próximos”. Já a imagem sociológica “é aquela que o presbítero recebe da sociedade, muitas vezes diferente daquela que ele tem de si próprio, o que pode causar estresse, solidão e abatimento”.

Neste sentido, ele explica que “a contradição entre essas duas imagens pode levar o sacerdote a subvalorizar a imagem teológica, ou então enclausurar-se nela”. Além disso, a “supervalorização da imagem teológica pode levá-lo a subestimar a imagem sociológica e cultivar o desejo de ocupar um posto na sociedade”. Por outro lado, “a infravalorização dessa imagem teológica pode levar a questioná-la e vê-la como um produto de uma teologia exagerada”.

Assim, o Setembro Amarelo deve ter o intuito de ajudar os religiosos a terem um novo olhar sobre si mesmo e sua vocação. Ou, como propõe Padre Lício, “o desafio dos sacerdotes neste aspecto resume-se a não fugir da realidade” e em “viver coerentemente a dimensão teológica do sacerdócio”.

As dores da vida religiosa

O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial. E no caso dos religiosos, vários estudos apontam que os principais fatores de risco para o suicídio são o estresse, a solidão, a depressão e a cobrança excessiva. Fatores que não podem ser ignorados pela comunidade religiosa e que são muito oportunos de serem debatidos a partir do Setembro Amarelo.

Neste sentido, a proposta do Padre Lício vem a calhar: “é relevante reconhecer a importância e urgência de uma melhor formação inicial nos seminários e noviciados, trabalhando mais efetivamente a dimensão humano-afetiva”.

Além disso, é necessário, segundo ele, “a criação de estratégias pastorais mais apropriadas”. E isso não apenas para a formação permanente, mas também para o cuidado dos próprios sacerdotes, a fim de que “saibam enfrentar o medo e o preconceito em relação à saúde mental dos presbíteros”.

A importância do acolhimento

Uma pesquisa apresentada em 2008, no Congresso do ISMA Brasil, organização de pesquisa e tratamento do estresse, mostrou que a vida sacerdotal é uma das profissões mais estressantes da atualidade. Para esta pesquisa, 1,6 mil padres e freiras foram entrevistados, e desses 448 (28%) afirmaram se sentir “emocionalmente exaustos”. Já naquele tempo, os números eram superiores ao de policiais (26%), executivos (20%) e motoristas de ônibus (15%).

A psicóloga Luciana Campos, especialista em atendimentos a religiosos e autora do livro “A Dor Invisível”, escreveu: “Independente das causas que levam o sacerdote ao suicídio, tudo indica, que na maioria dos casos, a forma de se relacionar com a solidão e o fator isolamento tem sido letal!”.

E com relação à depressão, outro fator de risco, ela questiona: “Como estão sendo vistos, acolhidos e tratados os padres depressivos?” Ela ainda aponta que as pesquisas dizem que entre 90-95% dos suicidas apresentavam transtornos psiquiátricos no momento da morte. E afirma: “Há uma correlação importante, sobretudo, entre o suicídio e a depressão”.

No Setembro Amarelo, Congresso propõe a “Revolução da Ternura”

Nos dias 15 e 16 de setembro, o Centro Âncora, especialista em cuidar da saúde física, mental e emocional da vida consagrada, promoveu o VII Congresso Âncora com o tema: Revolução da Ternura.

O termo Revolução da Ternura tem sido frequentemente utilizado pelo Papa Francisco, em muitos discursos e homilias. Logo, o Papa tem instigado os consagrados a serem agentes de ternura no mundo. E certa vez ele fez o seguinte questionamento em uma de suas audiências: “Estou permitindo que o Senhor me ame com a sua ternura, transformando-me em um homem/mulher capaz de amar desta forma?”

Este questionamento inquietou a equipe do Centro Âncora acerca do tema e nos motivou na realização deste VII Congresso, porque compreendemos que a ternura tem um poder transformador. E essa transformação acontece tanto na vida de quem é alvo da ternura (seja a de Deus ou a humana), quanto na vida de quem age com ternura.

Estudos mostram que a ternura tem a capacidade de reduzir o estresse, de fortalecer os laços sociais e de promover a saúde emocional e mental. Logo, quando nos permitimos ser ternos e acolhedores, criamos um ambiente propício para o crescimento, a cura e a conexão profunda com os outros.

ASSISTA: Workshop Setembro Amarelo – Uma psicodinâmica do suicídio na vida sacerdotal e consagrada

Qual a importância da campanha Setembro Amarelo? De acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS) uma pessoa comete suicídio a cada 40 segundos em todo o mundo. Além disso, as estatísticas também apontam que, para cada suicídio consumado, […]