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29 de novembro de 2022

O que realmente importa?

Por Irmã Silvia Cristina Maia

“Muito se caminha, passo a passo, fechados no próprio silêncio ou trocando algumas palavras que geralmente não dizem nada. Mas quando vem a hora do perigo, então nos apoiamos uns aos outros, descobrimos que pertencemos a uma mesma comunidade, nos enriquecemos com as descobertas de outros conhecimentos. Nos olhamos com um grande sorriso, parecido com aquele de um prisioneiro libertado que se maravilha com a imensidade do mar”. (Saint-Exupéry, Antoine de. Terra degli Uomini, p.43)

No livro “A terra dos Homens” de Exupéry se conta as aventuras do piloto Guillaumet (um piloto francês que era amigo íntimo de Exupéry). Numa de suas aventuras, o protagonista fala sobre responsabilidade social que transparece em cada um de nós, principalmente diante de um perigo eminente, diante de uma ameaça. Essa aventura coloca o piloto nos Andes, onde caiu seu avião, e ali ele enfrenta os limites da busca pela sobrevivência. O que exatamente o mantém vivo? O que é capaz de motivá-lo a não desistir? Por que vale a pena continuar e lutar pela vida?

A resposta a estas perguntas tem muito a ver com o nosso desenvolvimento moral que nos leva, em seu último nível, aos princípios da reciprocidade, da igualdade pelos direitos humanos, de respeito pela dignidade dos seres humanos como pessoas individuais. E com certeza para chegar a esses princípios preciso me sentir parte de algo, de um todo.

Nesta aventura de Guillaumet, ele, em meio a neve e diante da morte, faz a seguinte reflexão: “Na neve se perde cada instinto de conservação. Depois de dois, três, quatro dias em marcha, não se deseja outra coisa que não seja dormir. Eu assim desejava. Mas dizia a mim mesmo: ‘Minha mulher, se acredita que ainda estou vivo, ela sabe que estou a caminho. Os meus companheiros, se acreditam que estou vivo, creem que estou a caminho. Todos eles confiam em mim. E eu, se não caminho, sou digno do desprezo deles’”. 

Família, companheiros e amigos, ou seja, as relações mais importantes e significativas vividas pelo  piloto, foram exatamente o que o fizeram lutar pela vida, a não parar no meio do caminho, a não se entregar à morte. 

Em tempos que passamos por uma pandemia, sabemos o que é isso. O que então a pandemia nos trouxe: Nos trouxe o contato com nossos limites, com a morte, com a perda. Nos trouxe também a responsabilidade social, embora longe uns dos outros nunca nos sentimos tão pertencentes a um mesmo mundo onde todos sofrem juntos a mesma dor. A pandemia nos falou de nós individualmente, mas também do “nós” como um todo. Aprendemos a apreciar o abraço, um sorriso, a liberdade de caminhar nas ruas sem medo. E ela nos ensinou o quanto estávamos desconectados disso tudo.

Enfim, a pandemia trouxe à tona o pior e o melhor de nós. Percebemos como Guillaumet, que em meio ao caos, ao desespero, ainda vale a pena continuar vivendo porque nada vale mais que o beijo, o abraço ou o sorriso que temos,

Bibliografia
De Sant-Exupéry, Antoine. Terra degli Uomini. Lit Edizioni: Roma, 2014.

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