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Meu filho está usando drogas! E agora?

05 de julho de 2022

Meu filho está usando drogas! E agora?

São inúmeras as famílias que buscam na Copiosa Redenção um conforto ou amparo na hora em que a droga deixa de ser algo que acontece na família do vizinho ou com o colega de trabalho. No entanto, se torna uma realidade, ainda mais complexa e dolorosa, dentro de suas próprias casas, quando seu filho está usando drogas.

Normalmente, sem as informações necessárias, após a descoberta, o processo que se instala na família aproxima-se do caos e do desespero. O fato é que, sem saber como agir, muitas vezes os familiares e amigos envolvidos na situação acabam contribuindo para o agravamento do problema.  

Considerando essa problemática, entrevistamos o assistente social Mauricio Landre, referência no trabalho com dependentes químicos e comunidades terapêuticas. Além de trabalhar diretamente com usuários e dependentes, atua na formação de diversos profissionais da área. Sua contribuição à recuperação e formas de tratamento para dependentes é vasta. Sendo assim, nesta pequena entrevista, Maurício respondeu algumas perguntas que visam auxiliar famílias, que estão sofrendo em decorrência do uso ou abuso de drogas.

1. A partir do momento em que o uso é constatado, qual o próximo passo? Em que momento a ajuda profissional pode e deve começar a fazer parte? Muitas vezes, nessa fase de identificação do uso é comum encontrar a resistência, negação e rebeldia. De que maneira tratar do assunto? 

Essa é, talvez, a pergunta mais complexa e importante de ser compreendida para que a ajuda seja efetiva. Em primeiro lugar, temos que diferenciar uso, abuso e dependência. São três estágios progressivos que podem ser interrompidos com a atenção e ações corretas. O uso de drogas hoje, entre os jovens, tem um índice muito alto na experimentação, em torno de 70% (CEBRID). Esse dado já expõe os adolescentes e jovens a uma vulnerabilidade que, dependendo de como as relações afetivas, familiares e sociais se configuram, será determinante para o avanço do uso ou não. Famílias ausentes, rígidas ou passivas demais, com crises e falta de diálogo, são as mais vulneráveis para a evolução do quadro. 

No abuso, ou seja, o consumo de uma quantidade de álcool ou droga acima do que o corpo consegue metabolizar, de forma que não altere o funcionamento do cérebro, nas suas habilidades perceptivas, emocionais e cognitivas, implica numa concepção de uso por parte dos jovens que se caracterizam por diversos outros agentes sociais e de autoconhecimento, autocontrole e autoestima.

Quando chega a dependência, não existem alternativas eficazes que não sejam associadas ao tratamento, seja clínico, psicológico e sociofamiliar. Com certeza, a fase do consumo é a mais difícil de obter resultados efetivos, sem mudanças profundas na rotina e visão de mundo.

Outro ponto importante é levarmos em consideração quais tipo de drogas, o contexto onde o jovem usa, os motivos ou objetivos para usar e a relação dele com a droga.

Diante desse quadro, talvez o maior instrumento terapêutico efetivo para qualquer uma dessas fases, seja o de estabelecer um vínculo com a família e pares. No entanto, um vínculo saudável, aberto, franco, honesto e respeitoso, de ambos os lados. Às vezes, a família tentando ajudar acaba prejudicando mais.

Os sinais e sintomas, de que pode haver a presença do uso, configuram-se por mudanças bruscas no comportamento, frequência e rendimento escolar, amizades diferentes e, isso tudo pode passar despercebido se a família não está atenta a esses movimentos.

Finalizando e reforçando, independente de onde a família ou os parentes e amigos identifiquem o uso do adolescente ou jovem, deve-se manter e cuidar para que a relação e os vínculos sejam fortes e confiáveis. Não podemos exigir um comportamento que não temos e que não represente o movimento cultural que o jovem está vivendo. É o caso da maneira de se vestir, uso de tatuagem, gírias e outros modos de expressão de sua identidade, e da presença da mídia, internet e redes sociais na comunicação dessa geração.

2. Muitas pessoas fazem uso de drogas lícitas e ilícitas e não se tornam dependentes da substância. Normalmente quando as famílias descobrem um ente que faz o uso, uma das alternativas propostas é o internamento em clínica ou comunidade terapêutica (CT). O internamento passa a ser válido em que momento?

Existe uma ordem racional e progressiva de uso e de intervenções para quem está consumindo drogas ou álcool, da mesma forma que para qualquer outro tipo de intervenção clinica. Imagine alguém apresentar uma febre alta, entupimento das vias nasais. A intervenção é uma internação imediata? Para quem usa, o melhor caminho é a prevenção, seja através de informação, da educação, do acompanhamento do crescimento, do rendimento escolar e dos amigos. No caso de abuso, uma investigação mais aprofundada junto de uma atenção maior pode ajudar, e, somente na dependência, é que o emprego da internação fará sentido. 

3. O que você sugere àquelas pessoas que estão tentando ajudar um dependente que aparentemente não quer ser ajudado? O internamento compulsório (realizado sem a vontade da pessoa dependente) é saudável? Se sim, quando pode e deve acontecer?

A intervenção involuntária é recomendada quando o dependente está colocando sua vida e de membros de sua família e sociedade em alto risco. Ela acontece através do pedido de um familiar ou responsável e é avaliada por um médico capacitado.

A internação compulsória é acionada pelo poder judiciário que, diante de uma infração ou crime, percebendo se tratar de um dependente, oferece um tratamento para o mesmo.

Infelizmente, no Brasil, temos muitos problemas com essas internações, dentre elas, a internação precoce de um adolescente ou jovem que ainda não desenvolveu a dependência; clínicas que só visam o lucro, famílias desgastadas e cansadas, veem em propagandas otimistas uma alternativa que alivia o estresse com a promessa de cura e paz; equipes e profissionais despreparados; locais adaptados inadequadamente para receber os pacientes (parecendo depósitos); uso descontrolado e inadequado de medicações fortes para manejar crises; falta de fiscalização e da participação da família que, muitas vezes, são proibidas de visitá-los. Duvidem disso!

4. Falando em CT, sabemos que você administra uma comunidade que é referência no Brasil e no mundo, e também, que você é considerado um dos mais conceituados especialistas do país nesta abordagem de tratamento e na própria dependência química. Pra quem é a comunidade terapêutica e qual o diferencial dela em relação às outras abordagens? Quais os mitos sobre esta forma de recuperação? E quais os avanços realizados nos últimos anos?

Tenho um posicionamento em relação aos modelos de tratamento de que, se eles existem é porque para algumas pessoas eles são adequados. Não existe um modelo eficaz para tratar todas as pessoas e sim aquele adequado ao perfil e ao comprometimento que se encontra.

A Comunidade Terapêutica (CT) é uma opção eficaz para casos graves de dependência de qualquer tipo, tanto para drogas utilizadas no Brasil como no mundo, que se encontram com uma desorganização biológica, psicológica e social. A comunidade terapêutica auxilia o indivíduo a restabelecer um contato sadio com princípios, valores, cuidados e com vínculos, dentro de uma estrutura de respeito, que utiliza de uma cultura e ambiente propícios para uma mudança gradativa e concreta na maneira de viver e se relacionar. O tratamento em CTs é voluntário, ou seja, o candidato tem que querer se recuperar e, para isso, é importante que conheça o programa e as regras antecipadamente.

Alguns mitos sobre CTs, tanto para alguns profissionais, serviços e familiares quanto para os próprios profissionais e equipes das CTs e seus acolhidos são: a CT é um manicômio que obriga as pessoas a trabalharem e rezarem o tempo todo; a CT institucionaliza o indivíduo; não têm evidências científicas de sua eficácia; na CT todo mundo é igual; se o acolhido não está praticando ou respeitando as regras é porque ele não quer tratamento; a CT só funciona quando a pessoa chega totalmente rendida e manifesta um querer desde o início, dentre muitos outros. Importante lembrar que, de fato, existem muitas CTs e muitos outros serviços despreparados para oferecer um bom tratamento, mas isso não significa que o modelo de CT não funciona. O objetivo maior da CT é a reinserção e reintegração social do indivíduo, baseada na busca e manutenção da abstinência integral.

5. Após um processo de recuperação, um dos maiores fantasmas que assombram os dependentes e as suas famílias é a possibilidade da recaída, que muitas vezes se concretiza. Como lidar com ela? 

A recaída acontece, com muita frequência, com todos os tipos de doenças ou transtornos crônicos, seja para quem sofre de diabetes, asma, hipertensão ou dependência de álcool e drogas. O importante é não desistir e tirar algum ensinamento ou informação, seja pelas consequências que ela traz ou pela percepção de mecanismos e resistência a algumas mudanças, cuidados ou detalhes que não foram interiorizados ou valorizados no tratamento. A melhor maneira de tratar a recaída é buscando entender o processo que levou o indivíduo ao retorno do uso.

6. Quais dicas você poderia fornecer aos profissionais da área, familiares e aos dependentes de modo que as dificuldades de reinserção sejam reduzidas?

Hoje, na CT Santa Carlota, Comunidade Terapêutica do Instituto Bairral de Psiquiatria, que coordeno trabalho não somente com os acolhidos, mas com a equipe o tempo todo para que, cada um, como ser humano, encontre e invista em seus potenciais e suas aptidões, fortalecendo a autonomia e a escolha de seus atos e caminhos, através de uma reflexão interna e com seus pares, de forma que garanta qualidade de vida e sucesso na caminhada.

Utilizamos o reforço positivo, a não punição e o amor incondicional, que se manifesta na maneira como todos se relacionam consigo mesmos, com os companheiros e com as necessidades e responsabilidades que temos diante da vida e da sociedade. Somado a isso, utilizamos ferramentas que estão diretamente ligadas ao transtorno: prevenção de recaída, 12 passos, psicoterapia individual e social, projeto de vida, grupos e filmes reflexivos, etapas alcançadas por esforço e mérito.

Talvez a máxima que diferencia e auxilia na construção de uma relação saudável com essa metodologia, e a mais ideal, são duas frases marcantes que repetimos sempre: “Ajuda é para quem precisa e não somente para quem merece” – Afinal, como Cristãos, quem não merece? E a outra é “Nossa equipe é formada por pessoas que gostam de pessoas”.

São inúmeras as famílias que buscam na Copiosa Redenção um conforto ou amparo na hora em que a droga deixa de ser algo que acontece na família do vizinho ou com o colega de trabalho. No entanto, se torna uma […]