A Organização Mundial da Saúde define a dependência química como uma condição que leva o indivíduo, de maneira mais ou menos coagida, a assumir substâncias em doses crescentes ou constantes para ter efeitos subjetivos temporários, cuja persistência é indissoluvelmente ligada à contínua assunção da substância com consequências nocivas para o indivíduo e para a sociedade.
A palavra condição é relevante para nós, porque, no plano prático, nos leva a não tratar a pessoa dependente como um doente. Ela é, acima de tudo, uma pessoa que se encontra em uma condição que comporta uma relação problemática com uma substância. Condição de caráter existencial que afeta toda a sua vida, suas relações sociais, e compromete sua capacidade de decisão, compromisso com sua própria vida e com os outros. Esta relação patológica permanecerá durante toda a vida do indivíduo. O que pode mudar são os ganhos secundários com o objetivo de dependência, as expectativas investidas nessa relação e os seus efeitos.
Tratando-se de causas, estamos hoje convencidos de que não existe uma causa única que determine um quadro estruturado de dependência química. Existe uma série de fatores que contribuem para a estruturação de um mecanismo psicológico que busca uma compensação à dor, ao sofrimento, à frustração, à insatisfação e ao vazio existencial. Essa compensação nada mais é do que a relação, anteriormente citada, como um objeto, ou seja, uma droga de preferência que provoca gratificação e prazer compensando o vazio causado pelo sofrimento.
Há possibilidades de mudanças dessa relação. Ela pode ser conhecida, aceita, transformada. A pessoa não precisa mais ser escrava da droga, ela pode procurar e encontrar meios para modificar essa relação e estruturar uma vida nova.