Quanto vale a vida de um religioso?

A vida de um religioso é abundante de sentido, de propósitos e possui um valor imensurável para a vida da Igreja devido à sua entrega em favor do Reino de Deus.

Contudo, para aquele que passa por um período difícil em sua vocação ou na sua vida pessoal, esse valor, sentido e propósito podem facilmente ser esquecidos.

Mas às vezes nem precisa disso, a própria cotidianidade do religioso, cheia de compromissos, pode acabar afastando-o de uma espiritualidade cada vez mais íntima de Deus, como deve ser.

Por isso, hoje vamos fazer uma reflexão sobre o quanto vale a vida de um religioso.

Religioso, recorda-te: Deus tem um propósito para a tua vida!

Todo cristão sabe que Deus tem um propósito para a sua vida. E na vida religiosa este propósito é ainda maior. “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos conceda” (João 15,16).

Portanto, a vida de um religioso só encontra seu verdadeiro valor e sentido quando, de fato, a cada dia, é dada em favor do próximo. Afinal, o grande chamado para a vida do religioso é seguir a Cristo e servi-Lo no outro.

Sendo assim, a vida religiosa constitui um grande tesouro na vida da Igreja, cuidando do povo de Deus que precisa de pastores que o conduza ao rebanho do Senhor.

E neste sentido, não podemos deixar de fazer uma alusão bíblica sobre o religioso a partir de duas parábolas de Jesus.

A primeira delas é a do Bom Samaritano: aquele homem misericordioso que encontra em seu caminho um judeu ferido e cuida das suas feridas. Da mesma maneira, o religioso derrama, nas feridas do povo de Deus, o vinho da contrição e da penitência, assim como o óleo da confiança.

A outra parábola é a do filho pródigo. Neste sentido, o religioso é aquele que acolhe os filhos pródigos deste mundo garantindo que voltem à união com Cristo e os encaminha à Pátria celeste.

O religioso tem uma importância fundamental para a Igreja e para a sociedade. Começando pela valorização da pessoa humana. Além disso, o religioso ajuda a recuperar a dimensão do sagrado que é indispensável para a Igreja e para sociedade.

São Paulo, modelo para o religioso

O apóstolo Paulo é alguém que deu muito de si em prol do Reino de Deus e que padeceu para cumprir a Sua missão de levar o Evangelho àqueles que encontrasse. Sofreu mais do que poderia supor, assim como na atualidade são muitos os sofrimentos do religioso no cumprimento de sua vocação.

E Paulo escreveu: “Mas nada disso temo, nem faço caso da minha vida, contanto que termine a minha carreira e o ministério da palavra que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho ao Evangelho da graça de Deus” (Atos 20,24).

Contudo, essas suas palavras podem dar a entender que ele não valorizava a própria vida. Mas não é nada isso!

Muitas vezes, quando falamos de vida, a consideramos como um bem pessoal e pensamos poder fazer o que queremos com ela. Nos esquecemos que a vida não nos pertence, mas que ela nos foi concedida por Deus para desfrutarmos dela aqui, tendo como principal objetivo conhecer nosso Criador e termos comunhão com Ele. Ao mesmo tempo, enquanto aqui vivemos nossa vida, Deus nos prepara para termos vida eterna.

Logo, Paulo não menospreza sua vida, ele sabe o quanto ela é preciosa. Porém, para ele o valor de sua vida estava na grandiosidade de sua missão de evangelização. A sua vida passou a ter sentido e propósito a partir do seu encontro com Cristo. E ele estava disposto a abdicar de tudo para se dedicar exclusivamente à missão de evangelização, não importa o que acontecesse com ele. E o que fizesse, desejava fazer com alegria, com satisfação, jamais como uma obrigação.

Redescobrir o prazer de ser útil na cooperação com Deus

É preciso que o religioso resgate para si mesmo o valor da sua vida. E isso é possível encontrando sentido e significado refletidos na vida daqueles que o cercam e cujas vidas ele deve zelar como o Bom Pastor.

Apesar das dificuldades, seja no trabalho apostólico, em sua espiritualidade ou na saúde (física ou emocional), o religioso precisa recordar-se de que é um sinal profético num mundo fascinado pelo ter e o poder. Lembrar-se de que para os outros a sua vida aponta para os valores escatológicos, aponta para aquilo que há de vir.

Certamente esses são valores que ajudam na vivência diária da vocação e a redescobrir o valor da própria vida.

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