Escrevia a Ir. Maria, em 30 de abril de 1984, em Caiobá/PR:

“Senhor, que eu nunca me esqueça de te louvar, mas se um dia eu me esquecer que o meu respirar seja um eterno louvor”.

MARIA MOREIRA DA MOTTA SANTOS, nasceu em Siqueira Campos/PR, aos 10 de outubro de 1931, filha de Joaquim Bento da Motta e Ana Moreira de Castilho Motta. Foi batizada na Paróquia São Francisco de Assis, na Diocese de Jacarezinho, no dia 02 de dezembro de 1931 e crismada na cidade de Siqueira Campos.

Em 03 de maio de 1952, casou-se com Luiz Amado dos Santos com quem teve 6 filhos: Ana Maria, Luiz Antonio, José Maurício, Olga Regina, Célia Aparecida e Miriam Terezinha.

Teve oito netos, quatro bisnetos e um tataraneto.

Filha de pai ferroviário, que era constantemente transferido, morando em várias cidades: Jacarezinho, Wenceslau Braz e Ibaiti, onde concluiu o ensino primário.

Nesse período, recebeu instruções religiosas para a preparação da primeira comunhão, através de seu pai, visto que não havia pároco e as crianças eram preparadas por seus familiares.

Após esse período a família voltou a morar em Siqueira Campos.

Como na cidade não havia ensino além do 5º ano, passou a frequentar o Colégio São Francisco de Assis para aprender trabalhos manuais. Foi nesse colégio que conheceu a Ir Eva Vitoria, da Congregação da Sagrada Família, com quem iniciou sua participação mais efetiva na Igreja, como filha de Maria.

Aos 17 anos foi nomeada professora pelo estado para lecionar na Fazenda Salto Bonito.

Três anos depois, foi transferida para lecionar no grupo escolar “Professora Maria Aparecida Chueiry Salcedo”.

Em 1963, passou a lecionar na Escola Normal Regional de Siqueira Campos, no ano da fundação. E 1965, foi fundada a Escola Normal “Armando Barbosa Lemes”, onde fez o magistério. Após o término do curso, começou a lecionar nesta mesma escola e também no Ginásio Estadual, que já estava funcionando nesta época.

Cursou Letras pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho, no período noturno enquanto cuidava da família e lecionava, concluindo no ano de 1977.

Também lecionou nas cidades: Salto do Itararé, Santana do Itararé, Alecrim e Guabiroba. Passou a trabalhar também na Inspetoria Regional de Ensino de um dos padrões. Ficou viúva em 02/10/82 e recebeu sua aposentadoria em 25/11/82, passando a residir em Curitiba, no ano de 1983.

Em sua biografia, Ir Maria relatou: “Recebi de minha avó paterna, o amor pela Igreja e um grande respeito pelos sacerdotes. De minha avó materna, grande devoção a Maria Santíssima, São José e ao Espírito Santo e também fidelidade ao matrimônio, uma vez casada, em qualquer circunstância, ser fiel até a morte. Com Ir Eva Vitoria, aprendi a louvar a Deus pelo dom da vida, cada vez que o relógio batia as horas. E o gosto pela leitura da vida dos santos. De Frei Belino (capuchinho), a levar a sério a vida cristã. De meus pais, responsabilidade, perseverança, equilíbrio, fidelidade em todos os compromissos, religiosos ou sociais.

Aos 17 anos conheci o Luiz e aos 20 anos, Frei Belino celebrava nosso casamento. Quis o Senhor que eu passasse pela vida matrimonial. Para cada dia, dos 30 anos de casada, fosse desde o primeiro, sem consolações, alicerçando minha fé nas renúncias, entrega aos pés de Maria, me fortalecendo com os sacramentos e apoio dos freis Capuchinhos. Nunca pensei que fosse ficar viúva. E um dia, com tantos sofrimentos, me ajoelhei e consagrei-me a Deus, mesmo casada oferecendo minha vida em holocausto pela conversão de meus familiares e libertação do alcoolismo e drogas. Vejo agora a mão de Deus nessa entrega. Tenho certeza que foi o Luiz, a pessoa que me ajudou a descobrir a minha vocação religiosa.

Depois de viúva, mudei para Curitiba, visitei várias congregações, mas nenhuma recebia viúvas e nem com a minha idade. Passei a frequentar a RCC e cada vez mais sentia o apelo de Deus para a vida religiosa e para trabalhar na recuperação de alcoólatras e drogados. Procurei esse trabalho em vários lugares.

Fui convidada para pertencer ao Instituto Secular A.A.S (de segredo) em 12/08/1984, fundado na Bélgica, que eu frequentei por dois anos e meio.

Um dia clamando a Deus pelos sofrimentos dos alcoólatras e drogados e seus familiares, senti no coração algo dizer: trabalhe para o meu reino. (retiro de Monssuguê, 24/11/1984)

Estando no grupo de jovens, no portão, senti novamente o chamado par trabalhar com drogados e alcoólatras. No grupo de oração, em minha casa, durante a oração senti um chamado. Fazia parte desse grupo Nely, Nina, Glacy, Maria Irene, Mercedes e Clorides (já falecida).

No retiro de Monssuguê, o Pe Wilton disse: rezem por mim que Deus está me pedindo algo que eu não sei o que é. Nesta hora eu senti uma manifestação, sem explicação.

Novo retiro, em São Clemente, o Pe Wilton falava que a obra estava quase delineada, alcoólatras e mães solteiras, muito vago. Deus preparava meu coração que seria algo comigo.

08/08/1987, retiro de cura interior, no São Clemente, Pe Wilton fez a homília na missa, maravilhosa, eu senti uma alegria interior tão grande e agradeci a Deus por estar ali e por tudo que estava ouvindo. Pe Wilton estava de costas para mim. Ele virou-se e disse: Gostou Maria Motta? Eu levei um susto, e respondi que sim, e por isso estava agradecendo a Deus por estar ali. Na hora da oração de cura interior o Pe Wilton disse que rezaria primeiro por Maria Motta; Deus está me pedindo que reze por ela. Ele orou em línguas com imposição de mãos e disse que seria útil à Igreja. Quase não sai do lugar, porque não estava entendendo nada. No abraço da paz, no outro dia, o Pe Wilton disse: Maria, eu serei “pai” de muitos filhos e você “mãe” de muitos filhos. Fiquei sem voz, não consegui responder nada.

No outro dia, domingo, ele me chamou e convidou para trabalhar na recuperação de drogados e alcoólatras e com mães solteiras, para isso eu teria que me desligar do Instituto Secular que fazia parte. Eu me identifiquei com a obra do Pe Wilton e já me senti desligada do antigo instituto. Só que levei um mês para dar a resposta, a responsabilidade era muito grande, rezei muito, mas Deus me deu a certeza do chamado. Meu coração estava em expectativa. Eu não sabia o que seria de mim agora.

Nesta mesma época Pe João Rocha me convidou para trabalhar com ele na recuperação de menores abandonados e formar uma comunidade missionária. Recebi também o convite de entrar no Mosteiro das Monjas Passionistas de Osasco, através da Ir Samira, tia da Vera José. Eu seria a primeira viúva a pertencer a esse mosteiro. Paulo do Terço, também me convidou para fundar uma congregação com o carisma da divulgação do Terço e ter uma casa de repouso para padres e freiras.

Claro que aceitei o convite do Pe Wilton, já estava numa caminhada de quatro anos com ele na evangelização com Dewet, o carisma “ tudo para o Reino”, confirmando o que estava no meu coração há muito tempo. Houve também uma amiga convidada por Pe Wilton, a Inês. E no dia 22/12/1987 ás 08h30 na capela do seminário São Clemente em Curitiba, Pe Wilton me consagrou e Frei Henrique a convite da Inês, a consagrou. Pe Wilton cantou o “Magnificat” e a “Ladainha dos Santos”, a primeira leitura Dt 7, 6-14.

Foi uma cerimônia simples, sem convites, no silêncio, nem minha família soube, mas muito significativa. Ali eu dava meu “sim” na fé, sem saber o que viria depois. Somente a certeza de estar vivendo a vontade de Deus. Fiz os quatro votos: obediência, pobreza, castidade e perseverança até a morte.

Com o Instituto Secular sentia cada vez mais forte o apelo de Deus para a Congregação. Com o trabalho de recuperação dos jovens, desde o primeiro, Michel, sendo recebido no meu apartamento. Depois os outros que foram chegando, quando precisavam de médicos ou dentistas, ficavam em minha casa. Não tive medo de recebê-los, sem receio de coisa alguma, sem saber de que família, de onde vinham, o que faziam, nunca perguntei nada do passado deles, o importante para mim era que queriam se recuperar do álcool e das drogas. Parou dois meses em casa, o José Mauricio, rapaz que atendia o escritório, também nunca soube quem foi sua família. Dorival trabalhou como motorista, parava em casa, também não conhecia nada da vida dele. Jean Pierre, este foi o único que a família telefonava sempre e fizemos amizade. Atendi o Jamil, um jovem drogado e aidético, que morando num hotel não podia ir pra chácara. Todos esses acontecimentos me davam a certeza da vocação e do carisma.

Na época de visitas, as famílias dos recuperandos se hospedavam em minha casa. Porque tudo era começo. A Copiosa Redenção fazia e faz parte da minha vida. Já não conseguia dar aulas no colégio e meu padrão ficou a disposição.

Em janeiro, num dos retiros em São José dos Pinhais, Sagrado Coração, senti muito forte o apelo de Deus para ser uma congregação e que o carisma de Pe Wilton era esse e não Instituto Secular, e saí com Serena Simm, membro do Instituto, para comentar sobre isso, quando vimos o Pe Wilton estava atrás de nós perguntando o que acontecia e contei a ele o que estava sentindo. Uma noite Pe Wilton jantou em casa, Jean Pierre estava lá, ele disse que iria me abençoar e pediu a Deus sabedoria e discernimento para a fundação da congregação, até aquele momento não sabíamos quem viria comigo.

Em outra visita de Pe Wilton, ele me perguntou quem viria comigo para Ponta Grossa para fundar a congregação. Na hora lembrei-me da Ruth, membro do Instituto Secular e amiga, e disse: a Ruth! Mesmo sem ter falado com ela.

Pe Wilton num retiro em União da Vitória, convidou a Ione.

Dia 08/12/1989, Ir Ruth, Ir Ione e eu começamos a CONGREGAÇÃO das Irmãs da “COPIOSA REDENÇÃO” “MARIA MÃE DA DIVINA GRAÇA”, fundada pelo Pe Wilton Moraes Lopes e nosso diretor espiritual.

Os primeiros três meses de convivência, foram para mim, de ricas experiências, onde sentimos forte a presença de Deus nos fortalecendo no dia a dia, superando as dificuldades, procurando uma ajudar a outra com muita oração, renúncia e dedicação. E essa experiência se repete cada vez que chegam novas vocações. Com a graça de Deus, com a proteção de Maria, assistência do Espírito Santo e a orientação do Pe Wilton a congregação está crescendo para a glória de Deus.”