A loucura da Hóstia

Gostaria de expressar o sentimento profundo de que todos vocês possam ir descobrindo este caminho que faz parte de nossa experiência de vida, de muitas cores, de muitas dores, cruz que faz sombra, abrigo amoroso. Por isso Senhor Jesus queremos contemplar, queremos mergulhar nossa vida na sua interioridade passando por essa cruz. Sim Pai tua santa vontade, a vontade do Pai.

Para todos vocês também, meus queridos, a vontade do Pai, muitas vezes, pode ser o caminho da cruz. Não tenham medo, não tenham medo de se lançar nesta vontade, neste desígnio, desejo profundo de realizar a vontade do Pai, não existe Páscoa sem cruz, ressurreição sem cruz, as nossas pequenas e grandes cruzes de cada dia imoladas no altar de nossa vida, se fará lar de Jesus, fonte perene da Copiosa Redenção.

Também hoje quero falar para vocês da loucura da hóstia, a vida interior que contemplamos em nós, em nós contemplamos Cristo sinal vivo, sacramento de amor, apaixonado de amor quis ficar conosco na pequena hóstia. Nossa força viva. Não há maior prova de amor que dar a vida por aquele que amamos, uma única vez. Ele nos dá essa vida, todos os dias, todos os instantes, a cada instante que paramos diante d’Ele já nos dá esta vida espiritualmente, cada dia nos dá sacramentalmente.

Senhor queremos entender, queremos alcançar o voo que nos leva até junto da plenitude desta compreensão e não podemos voar tão alto. Queremos Senhor que o caminho de nossa interioridade passe pela patena e pelo cálice. O caminho de nossa interioridade também nos faz oferenda no altar, não existe vida interior que não tenha que nascer no altar, penhor da entrega total.

Cada membro da Copiosa Redenção se coloque na patena, se coloque no cálice, na imolação de todos os dias, e junte a hóstia por loucura, ser no mundo sinal, ser no mundo sacramento vivo da Copiosa Redenção.

Carinhosamente de seu Pai espiritual.

(Último trecho da carta escrita em 23 de maior de 1994)

A loucura do presépio

(Continuação da carta de 23 de maio de 1994)

O Senhor quer nos chamar a perceber em tempo a necessidade de podermos nos concentrar naquilo que é essencial. O que é essencial? A presença de Cristo em mim. Perceber esta presença, tomar consciência com muita clareza de que esta é uma presença toda plena de amor que tomar conta de nosso ser.

 A presença amorosa do Senhor em nossa vida, no interior de nós mesmos, no interior de cada membro da Copiosa Redenção o Senhor habita. Tomar consciência disso, e porquê? Porque a vida interior é antes de tudo um caminho de intimidade com Deus, um caminho de profunda harmonia neste relacionamento, caminho de dinamismo transformador. Pois devemos portanto lutar com todas as nossas forças para percebermos quais são os obstáculos que existem dentro de mim que me impedem hoje de experimentar esta harmonia, este relacionamento amoroso, que me impedem de experimentar esta intimidade com Deus, impede hoje de experimentar esta presença amorosa do Senhor em minha vida, pois tenho que perceber nesta interioridade que este amor de Deus é um amor pessoal.

Jesus se interessa pela minha pessoa, como se fosse o único em que tivesse de pensar, isso é uma verdade. Cada um de vocês são amados pelo Senhor na sua realidade.

O Senhor pensa desde toda a eternidade em você e pousa os olhos em você. É n’Ele que podemos sem dúvida ouvir a expressão mais pessoal, mais envolvente do seu amor, principalmente aquela que possa brotar do alto da cruz. “e sei na minha agonia por ti derramei gota por gota do meu sangue”.

Jesus é o centro de todos os corações, mas Ele é também o centro do meu coração, está presente em toda a realidade do meu ser, da minha consciência, me amando na minha interioridade, penetrando meu ser da sua presença Divina, tendo um amor pessoal.

Não fostes vós que me escolhestes, mas eu escolhi a cada um de vocês. A escolha do Senhor é pessoal. Muitas vezes nós temos tendências de olhar para nós mesmos nossas misérias, a nossa pequenez. E as vezes tentamos nos desvalorizar, tentamos saborear de uma forma que nos atordoa nossa própria negatividade, nossa própria miséria. E o Senhor nos chama a perceber este amor pessoal. O Senhor te ama desta maneira. É um passo importante da vida interior, descobrir o amor do Senhor. Todo membro da Copiosa Redenção tem que descobrir este amor pessoal. Isto deve ser uma marcar na vida da Copiosa Redenção. Porque? Porque se não experimentarmos em profundidade este amor pessoal do Senhor, como poderemos transmitir para os jovens, para as pessoas que se aproximam de nós a força do amor restaurador que passa através de nós, de nossos olhos, de nossas mãos, de nossos pés, de nossos trabalhos, de nossos caminhos, de nossas preocupações.

Cada membro da Copiosa Redenção deve ser um eco desse amor pessoal, em tudo que ela faz, em tudo que ela realiza, em tudo deve mostrar que o Senhor ama cada pessoa de maneira pessoal. Aquele que se sente indigno se torna por esse amor pessoal pleno de dignidade, pleno de plenitude de aceitação. Nesta vida interior que nos leva a descobrir e experimentar o amor total do Senhor.

Jesus nos amou até a loucura, Ele nos amou na loucura do presépio, na loucura da cruz e na loucura da hóstia.

Hoje cada membro da Copiosa Redenção tem que se colocar interiormente nessa plenitude do amor total. Tem que olhar esse amor do Senhor, a loucura do presépio.

É que o Senhor nos chama a não nos acomodarmos, não termos medo do amanhã, nos colocar hoje nas mãos de Deus. Deus está conosco, Deus não nos abandona jamais. Maria e José confiaram nesta providência de Deus. Ali na estrebaria, no lugar mais pobre, mais humilde, Deus na sua loucura de amor total por nós se faz presença em nosso meio.

Como nós temos meus queridos filhos da Copiosa Redenção de nos despojar, como nós temos que tirar de dentro de nossa vida interior tanta coisa que encheu o espaço que deve ser de Jesus.

Na loucura do presépio, o Senhor vem nos dizer que devemos ter o coração despojado, para que Ele possa nascer, ali, na pobreza de nós mesmos, na pequenez de nós mesmos, na simplicidade mais pura e total de nós mesmos, da descomplicação profunda que deve acontecer dentro do nosso interior para que o Senhor seja Ele, aquele que preenche o nosso coração, aquele que preenche nossa interioridade, está lá nos despojamento de nós, que preenche em nós a loucura do presépio, loucura do nada, loucura do abandono total, loucura da entrega total.

Que esse presépio hoje, possa nos mostrar que na gruta de Belém nós caminhamos para a nossa vida interior. A vida interior passa lá pelo presépio, ensina a olhar as coisas deste mundo com um olhar de José e Maria, não fixarmos os nossos olhos em certos elementos que são tão passageiros.

Mas, também este caminho da interioridade onde olhamos a loucura da cruz, o amor total que nos faz quietos, silenciosos, de paz total e demoradamente, nenhum caminho de vida interior passa sem este olhar, passa sem esta sombra da cruz. Então nós encontramos uma luz maravilhosa que nos faz amar este caminho, esta caminho da cruz, a nossa cruz, a Copiosa Redenção, cruz que está no mundo, cruz da dependência das drogas que mata tantos irmãos.

Esta cruz que devemos levar, esta cruz que devemos carregar. Cada membro da Copiosa Redenção tem que carregar esta cruz que é cada jovem que nós encontramos na sua dependência mais triste e pesada, de cada alcoólatra que encontramos na escravidão. É lá que o Senhor nos chama a cada membro da Copiosa Redenção. Chama você a ser Simão Cirineu, olhe o amor total do Cristo na cruz.

Vamos descobrindo que o caminho da nossa vida interior é um caminho que deve passar primeiro pelo servir, no servir também nós nos crucificamos, crucificamos nosso egoísmo, deixamos de pensar me nós mesmos. Olhar para Cristo que se entrega totalmente por nós na cruz. Todos devem penetrar neste mistério na sua interioridade.

Nossa vida interior

Hoje queremos falar, comentar nesta comunicação convosco sobre um valor extraordinário: a vida interior. Queremos dizer da necessidade que temos de reconhecer todos os valores desta vida interior. Queremos saborear um novo conhecimento e discernimento do que seja a vida interior.

Temos nestes tempos percebido o desgaste que traz o ativismo em que vivemos, que mata toda a possibilidade de vida interior. Quando nós cortamos ou cerramos uma árvore que secou, percebemos que ela não tem mais vida que corre dentro do seu centro vital. Assim também conosco, se pudéssemos muitas vezes olhar para nós mesmos perceberíamos que as vezes estamos nos secando por dentro.

O Senhor nos fala claramente que Ele veio trazer uma fonte que jorra plenitude de vida. O Senhor veio falar tantas vezes da necessidade que temos de parar para poder saborear a presença amorosa de Deus. Não falou tanto em palavras, mas muito falou com seus gestos.

Quantas vezes o Senhor depois do trabalho do pastoreio sentiu a necessidade de recolher-se. O Senhor vem hoje nos chamar para esta experiência. Experiência da vida interior, experiência que nos convida a um reabastecimento.

Meus prezados membros: a grande preocupação que vem do nosso coração é a preocupação de que todas as pessoas possam saborear plenamente o amor de Deus na dimensão mais interior de suas vidas. Esta dimensão do amor de Deus é uma dimensão tão essencial, faz com que em profundidade se cresça naquela experiência de uma opção consciente, de uma opção clara, de uma opção por Jesus Cristo, onde não há dúvida que não possa ser solucionada, onde não há morte que não possa se tornar Páscoa, onde não há desespero que não possa se tornar esperança, onde não há desamor que não possa tornar-se amor, onde enfim, há uma infinidade de realidades que transformadas podem nos dar um sentido de vida. Aliás a vida interior, percebida, nada mais é do que uma consciência profunda da busca do sentido de ser.

Muitas vezes o fazer, o correr, o ativismo desenfreado, pode estar entrando em nossas vidas, nas comunidades da Copiosa Redenção, entrando em forma de zelo, em forma de um ativismo que aparentemente se torna necessário.

(Trecho da carta escrita em 23 de maio de 1994)